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OLÁ,

Manual de civilidade para políticos

Por Bravo
Atualizado em 22 set 2022, 12h28 - Publicado em 22 ago 2017, 12h13
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Conselhos para atingir um comportamento pretensamente ético na gestão da coisa pública

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Por Carlos Castelo

Este pequeno manual destina-se a pessoas que atuam na esfera política, não apenas como representantes do povo — por exemplo, vereadores, deputados, senadores, ministros e presidentes da república — mas também para cidadãos que lidam indiretamente com a área: secretários, assistentes, chefes de gabinete, assessores, pilotos de jatinho, motoristas, seguranças, cabeleireiros, empregados domésticos, faxineiros, mensageiros, carregadores de mala, puxa-sacos e dublês.

Abaixo, uma lista com os principais pontos, indagações e problemas — seguidos de conselhos práticos — para atingir um comportamento pretensamente ético na gestão da coisa pública.

I — SE ROUBAR É INEVITÁVEL, RELAXE E VÁ PARA A PAPUDA

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Todos sabem que, se um político costuma afastar as pessoas de suas carteiras com tanta facilidade, não é porque é necessariamente uma pessoa nefasta. Trataria-se de uma análise muito rasa pensar assim. Afinal, se políticos e furtos andam lado a lado há tantos séculos, deve existir uma razão menos condenatória para tal constante. Digamos que os mandatários historicamente têm uma compulsão pelo saque ao alheio. Compulsão é uma enfermidade. Logo, muitos deles não fazem seus assaltos porque querem, mas porque são impelidos por uma doença funcional.

(Ok, o argumento é capenga. Mas use-o, muito incauto ainda cai nele).

Agora, se você é daqueles políticos-ladrões-arrependidos, não há premissa que dê jeito: entregue-se à Polícia. O seu destino vai ser a Papuda. Mas não desanime, nossos presídios são os melhores lugares do mundo para cometer crimes. Se a sua vocação for mesmo a corrupção ativa e passiva, locuplete-se à vontade por trás das grades. Mas sempre com elegância e nonchalance.

II — VARIE O MODO DE AGIR

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“É fácil abater o pássaro que voa em linha reta, mas não aquele que altera seu voo”. Eis um precioso conselho. Troque pássaro por corrupto e abater por Operação Lava a Jato e o significado fica ainda mais evidente.

Em seu caso, se num determinado mês resolver passar a perna em seu sócio no ilícito que estão praticando com um empreiteiro, dali a um tempo mude de atividade criminosa: venda sua influência para empresários de setores diferentes dos da construção civil. Trocar de modus operandi, além de dificultar as investigações policiais, passa a impressão de dinamismo. E nada agrada mais à opinião pública do que um político-ladrão que rouba, mas faz várias coisas ao mesmo tempo.

III — DITOS ESPIRITUOSOS SÃO UM TESOURO

Possuir um arsenal de frases espirituosas e de efeito para utilizar na hora certa vale ouro. Às vezes, o que é dito brincando funciona melhor do que ameaçar um colega político-ladrão ou um juiz federal com a promessa de que vai colocar um dossiê sobre suas atividades delituosas nas mãos de uma grande rede de televisão. Ou pior: prometer que vai instalar uma bomba no bimotor em que a autoridade vai para Fernando de Noronha. Como dissemos, o ato de defraudar existe desde que o big bang era um peido. O que se deve evitar é, primeiramente, ser apanhado com a mão na caixa registradora. Depois, banir a falta de educação. Um mão-leve envernizado, que fala um bom português, com os esses e os erres bem colocados no meio de um discurso na voz passiva, tem sempre mais chances de sair dessa, para uma muito melhor, no Paraguai ou na Suíça.

IV — DIGA QUE É MENTIRA

Sim, é possível surrupiar sem nunca ser descoberto. Mas e se você for flagrado com a mão na botija?

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É simples: repita o mantra do infrator moderno ao ser interpelado pela Lei — “é mentira!”.

Se insinuam que você é culpado, “é mentira!”.

Se proclamam que você estava na Avenida Paulista, à luz do dia, tropeçou e de sua maleta caíram milhares de dólares no chão: “é mentira!”

Se exibem um vídeo com você falsificando euros: “é mentira!”

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Só banque o verdadeiro numa ocasião: se um promotor sugerir que suas lágrimas são falsas, proteste e grite (soluçando) que não são de mentira, mas autênticas como você.

V — DESCARTE OS PÉS DE CHINELO

No pôquer da política, a pior carta de um grande empresário é mais importante do que o melhor ás da mão de um pé rapado qualquer. É bom lembrar que ser corrompido por um bilionário ou pelo dono da loja de água mineral em garrafão da esquina é punido pela mesma lei. Use de bom senso e ofereça sua influência aos afortunados. Contudo, descarte o pé de chinelo com classe. Diga um definitivo não e, no dia seguinte, envie uma corbeille de flores à loja de água mineral em garrafão. O dono, com certeza, votará em você na próxima eleição.

VI — PARÁGRAFO FINAL

Nunca acredite em parágrafos finais. Mude as leis a seu favor, você é um político ou um rato?

Perdão. Reformulando…já que você é as duas coisas: você é um político ou um cidadão probo?

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