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Visibilidade Trans: 8 artistas que estão ampliando narrativas na cultura

Saiba como surgiu a data, entenda quais são as lutas vigentes e conheça ativistas que estão tornando a indústria cultural mais diversa e inclusiva

Por Beatriz Magalhães
Atualizado em 29 jan 2024, 17h31 - Publicado em 29 jan 2024, 11h20

Há exatos 20 anos, ativistas trans e travestis fizeram um ato histórico em um dos países que mais mata pessoas transgênero na América do Sul (segundo dados da Transgender Europe – TGEU, de 2021): a criação de uma campanha contra a transfobia no Brasil. Nasceu assim, em 29 de janeiro de 2004, o projeto “Travesti e Respeito”, da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA) em parceria com o Departamento DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, e teve palco no Congresso Nacional em Brasília.

A TGEU é uma rede de organizações que monitora dados levantados por instituições trans e LGBTQIAPN+ globais sobre assassinatos registrados por transfobia. Somente no Brasil, em 2021, foram 141 casos, representando 33% do total. Em seguida, o México ocupa o segundo lugar, com 65 e Estados Unidos, com 53.

Os dados alarmantes sobre tamanha violência é apenas uma dentre as diversas pautas que foram colocadas em foco na campanha, onde na época mal haviam pesquisas sobre o tema. Trata-se de uma luta em prol do acesso a uma cidadania plena no país por parte da população trans e travesti, do reconhecimento da vida e dignidade de pessoas da comunidade; garantia de demandas básicas, como a diminuição da vulnerabilidade econômica, apoio estatal para combater a evasão escolar, políticas públicas e meios de qualificação para o mercado de trabalho, além de todo uma conscientização sobre gênero, diversidade e inclusão.

A iniciativa nasceu em 2004 e foi estampada por uma foto de 27 travestis com a seguinte frase: “Travesti e respeito: já está na hora de os dois serem vistos juntos. Em casa. Na boate. Na escola. No trabalho. Na vida.”A ação ganhou ainda mais força após a ANTRA convidar 52 organizações afiliadas de todo o país a irem para as ruas em busca de garantir direitos da comunidade. O ato concretizou a data como símbolo da luta trans, travesti e não-binária.

O T da Questão: artistas que estão ampliando o debate na cultura

A falta de reconhecimento da identidade trans gera diversos desafios para a comunidade toda, incluindo a dificuldade de acesso ao mercado de trabalho, educação e saúde.

Muita das vezes, a história se repete em diferente lares brasileiros: a maioria é expulsa de casa, ainda na adolescência, o que faz com que abandonem os estudos e com a falta de perspectiva de habitação, educação e tampouco trabalho formal, recorrem à prostituição como a única maneira de sustento.

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Ainda quando falamos de saúde, a falta de acesso a direitos básicos expõe esse grupo de pessoas à obstáculos como pouca ou nenhuma garantia de medicamentos, consultas médicas, cirurgias e tratamentos hormonais.

Todo esse projeto político de invisibilização de pessoas trans, travestis e não-binárias se reflete na falta de representatividade no cenário cultural, por exemplo. Aos poucos, pessoas que fazem parte da comunidade estão redesenhando tal contexto e transformando o setor. Mas tem quem esteja cada vez mais hackeando espaços e mudando narrativas de dentro por fora, garantindo mais diversidade, inclusão e representatividade dentro e fora das telas.

A seguir, listamos cantoras, escritoras, roteiristas e cineastas trans brasileiras que estão contribuindo para a ampliação de narrativas trans e não-binárias no mercado cultural.

Assucena

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Após sua participação no grupo As Bahias, da qual foi indicada duas vezes ao Grammy Latino (2019 e 2020) e conquistou duas categorias no 29º Prêmio da Música Brasileira, a cantora Vitória da Conquista Assucena tem ganhando não só o coração do público. Nascida e crescida no sertão da Bahia, Assucena recriou canções da eterna Gal Costa do disco “Fa-tal — Gal a todo vapor” como tributo à artista que mais influenciou sua formação. A apresentação do espetáculo abriu caminhos para o lançamento de seu primeiro disco, intitulado Lusco-Fusco, marcando seu debute na indústria.

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Danny Barbosa

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Atriz, roteirista e produtora audiovisual paraibana, Danny Barbosa tem ganhado destaque no cinema nacional, especialmente após dar vida à personagem Darlene, no longa-metragem Bacurau, escrito e dirigido por Kleber Mendonça Filho. O filme conquistou o prêmio do Júri no Festival de Cannes de 2019, após empatar com o drama francês “Les Misérables”.

Élle de Bernardini

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Élle de Bernardini é uma pessoa de personalidade multidisciplinar. Artista visual, performer e bailarina com formação em ballet clássico pela Royal Academy of Dance de Londres, Élle busca fazer ‘parte do imaginário popular’ e ressignificar como pessoas veem mulheres trans e travestis em outros espaços. Por meio de suas obras – que transitam entre experiências sensoriais, fotografias, pinturas, instalações e vídeos -, Bernardini foi a primeira artista trans a ter sua obra exposta no acervo da Pinacoteca de São Paulo.

 

Laerte

Laerte Coutinho, cartunista. Foto por: Sofia Colucci, 2018.
Laerte Coutinho, cartunista. Foto por: Sofia Colucci, 2018. (Sofia Colucci/divulgação)

Dentre tantas artistas transformando o cenário cultural, é impossível não mencionar Laerte. Nascida em São Paulo em 1951, ela começou sua carreira nos anos 1970 e logo se tornou conhecida por seu humor ácido e irreverente. Em meados dos anos 2000, a cartunista começou a explorar sua identidade de gênero em suas tirinhas, até que em 2010, se assumiu publicamente como uma mulher trans. Laerte é uma artista prolífica que já publicou mais de 20 livros de quadrinhos, com alguns com maior repercussão, como: Overman, Piratas do Tietê e Muchacha.

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Seu trabalho foi traduzido para diversos idiomas e exposto em museus e galerias de arte por diversos países, incluindo espaços renomados como o Museu de Arte de São Paulo (MASP), Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), Museum of Modern Art (MoMA), Museum of Contemporary Art, nos Estados Unidos. British Museum, National Gallery, Museo de Arte Moderno de Buenos Aires (MAMBA), dentre outros espaços na Europa e América Latina.

Linn da Quebrada

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Lina Pereira dos Santos é cantora, compositora, atriz, performer, ativista, travesti e uma pessoa de autenticidade inegável. Conhecida pelo nome artístico Linn da Quebrada, ganhou maior projeção com o lançamento da faia “Enviadescer” e posteriormente com o álbum “Pajubá”, que conta com participação de Liniker. Por onde passa, Linn deixa sua marca e poesia, seja em ‘Segunda Chamada’ ou ‘Manhãs de Setembro’, programas de televisão ou na música, a artista traz luz à questões de gênero, sexualidade, visibilidade trans e a luta dos direitos LGBTQIAPN+.

Liniker

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Falar de música brasileira e sensibilidade, é falar de Liniker. Sua potência vocal e lírica é um verdadeiro presente para quem acompanha a carreira da artista. A cantora, compositora e atriz brasileira, nascida em Araraquara, São Paulo, é atualmente uma das principais vozes da música brasileira contemporânea. Em 2021, lançou seu primeiro álbum solo, “Indigo Borboleta Anil”, que explora temas como identidade, amor e liberdade. A voz de Liniker vem como um sopro de esperança em um mundo que ainda é hostil às pessoas trans, com músicas que celebram a vida. A cantora já garantiu inúmeros prêmios, como Grammy Latino de Melhor Álbum de Música Popular Brasileira (2022), Prêmio Multishow de Melhor Cantora (2022), Prêmio WME de Melhor Cantora (2023) e Prêmio APCA de Melhor Cantora (2023).

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Lorre Motta

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Ator, diretor, pesquisador e performer trans, Lorre Mota é mais um dos talentos que estão despontando na indústria audiovisual. Com papéis em filmes como Entre a Colônia e as Estrelas e Levante, longa este que garantiu o prêmio Fipresci no Festival de Cannes, pela Semaine de La Critique, o carioca vem recriando narrativas trans negras e periféricas por onde passa. Lorre também já conquistou o Prêmio Especial do Júri para Elenco em Uma Paciência Selvagem Me Trouxe Até Aqui, de Éri Sarmet, no Festival de Sundance. Tamanha multiplicidade artística pode ser acompanhada não só por sua potente atuação nas telas, como pelo seu olhar por trás das obras, no videoclipe “Medusa”, de Zélia Duncan, por exemplo, da qual foi co-diretor.

Luz Maza

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Luh Maza é uma dramaturga, diretora, atriz e crítica teatral brasileira. Nascida no Rio de Janeiro em 1987, ela é considerada uma das principais artistas trans do Brasil. Maza começou sua carreira no teatro aos 12 anos como atriz. Aos 16 anos, seu primeiro texto teatral, “Três tempos”, foi publicado. Ela é autora de mais de dez peças encenadas no Brasil e em Portugal, todas sob sua direção. Seu trabalho em obras como Restos (2011), A Memória dos Meninos (2016) e Carne Viva (2019) marcam a importância da artista na construção da cultura brasileira.

 

 

 

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