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Fluxo de pensamento: o que move Alice Wegmann em um set de filmagem?

Em depoimento à Bravo!, a atriz, uma das protagonistas de "Justiça 2", compartilha sua jornada de descobertas na carreira artística

Por Alice Wegmann em depoimento à Bravo!
Atualizado em 16 abr 2024, 13h35 - Publicado em 15 abr 2024, 09h00

Esses dias, na análise, falei sobre o desejo e busca incessante por alguma coisa que não descobri o que é ainda. A cada novo projeto, me sinto mais perto dessa alguma coisa. E também mais longe. Em “Budapeste”, Chico Buarque diz que “o ator se transveste em mil personagens para poder ser mil vezes ele mesmo”. Sim, Chico. Atuo para fugir de mim e para ser quem eu sou.

Comecei minha carreira aos 11 anos no teatro, estive em cartaz com duas peças infanto-juvenis, sendo elas A casa da madrinha, de Lygia Bojunga, e Contos de Verão, de Domingos de Oliveira. Aos 15, entrei para a televisão, em “Malhação”. Já fiz uma novela vencedora do Emmy, “Órfãos da Terra”, já fiz algumas séries de sucesso, como Onde Nascem Os Fortes e Ligações Perigosas, já fiz alguns filmes, como O Rastro e A Vilã das Nove, que ainda vai estrear. E hoje, perto do lançamento das séries Justiça 2 [no Globoplay] e de Senna [Na Netflix], penso que nada disso é suficiente.

Celebro as conquistas, comemoro cada trabalho, mas o que me leva para frente é a falta. O desejo e o não saber são motores para seguir contando histórias, descobrindo, cutucando, olhando para o outro para me enxergar. Através da imaginação, somos capazes de acessar a realidade. Tudo o que se cria pode existir, sempre acreditei nisso… Que as histórias mais inventivas podem ser verdadeiras, que tudo o que é de fé pode ter total fundamento, que tudo o que a ciência ainda não explica, mesmo assim existe.

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A profissão de atriz mexe com técnica e intuição. Não tem certo e errado, ambos funcionam bem dependendo do caso. Mas no meu caso, o que grita mais alto é o coração. É claro que com os anos de carreira, a gente vai aprendendo a se posicionar para luz certa, a valorizar o rosto para câmera e a não cobrir o outro colega de cena. Mas nada imprime melhor do que uma frase dita com verdade. E para haver verdade é preciso haver paixão.

Há algo de transcendental dentro de um set de filmagem. A gente pensa ser quase impossível fazer tanta coisa caber em tão pouco tempo. Costumam ser dezenas de cenas filmadas por dia com uma equipe gigantesca e mil chances de dar errado. Ouvir o “corta” do plano que vale parece sempre um milagre. Tudo se alinha para que aquilo ganhe vida, como se tudo estivesse no lugar certo, com as pessoas certas e na hora certa. Dá certo, tem que dar.

Já deu certo para Fernanda Montenegro, Tony Ramos, Zezé Motta, Sonia Braga, Wagner Moura, Lázaro Ramos, Aracy Balabanian, Gabriel Leone, Isis Valverde, Selton Mello, Jéssica Ellen, Taís Araújo, Gloria Pires, Adriana Esteves, Marjorie Estiano, Leandra Leal, Murilo Benício, Laura Cardoso, Matheus Nachtergaele, Dira Paes e tantos outros. E vai continuar dando certo! Porque a arte resiste ao tempo e a todas as rupturas.

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Justiça – Carolina (Alice Wegman) (Fabio Rocha / Globo/divulgação)

Ano passado, em 2023, trabalhei muito. Filmei quatro séries. A primeira delas foi Justiça 2, que permitiu que eu desbloqueasse coisas muito íntimas dentro de mim. Um dia depois das cenas mais fortes, meu corpo inteiro doía. Tive herpes, gripe, infecção urinária e por aí vai… Emendei a segunda e terceira temporadas de Rensga Hits!, em que faço uma personagem muito solar. Num dos dias de filmagem, eram 5h da manhã e o motorista do carro que me levava para o set viu um homem atropelado. Paramos e socorremos ele, que estava convulsionando e todo ensanguentado. Depois que a ambulância chegou e ele partiu para o hospital, seguimos caminho… E uma hora depois, eu estava fazendo uma cena de comédia. Aquela cena brutal reverberou em mim por todo o dia, e precisei fingir que não.

Já estive no meio de um tiroteio real em Vila Valqueire em uma filmagem, já tive que andar debaixo de um caminhão numa estrada de terra, já fui parar no hospital, já tive que aprender a cantar cinco músicas em duas aulas de canto, já fui jogadora de tênis, já casei, já tive filhos, já matei gente e já morri em cena. Mas não tem jeito, nada é suficiente. Ainda quero me transvestir muito mais para poder ser quem eu sou.

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