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Gabriel Leone entre a vida e a arte

Ator brasileiro em ascensão, Leone falou sobre estreia internacional em "Ferrari" e antecipou detalhes de "Senna", série que estreia 29/11 na Netflix

Por Humberto Maruchel
Atualizado em 18 jul 2024, 10h22 - Publicado em 13 Maio 2024, 09h00

Gabriel Leone está no auge de sua carreira com lançamentos simultâneos de um filme blockbuster dirigido por Michael Mann (“Ferrari”) e a estreia da terceira temporada de “Dom” no Prime Video só no primeiro semestre de 2024. O ator também está prestes a protagonizar uma minissérie da Netflix sobre um dos maiores astros da Fórmula 1, Ayrton Senna, com estreia confirmada para 29 de novembro. 

Era manhã quando ele conversou por videoconferência com a Bravo!, de Los Angeles, onde passa uma curta temporada. As viagens para os EUA têm se tornado mais frequentes desde que passou a ser agenciado pela Creative Artists Agency (CAA), uma das principais agências de talentos dos Estados Unidos. Isso, no entanto, não significa uma mudança de país. Em breve, o ator estrelará mais um lançamento nacional: a adaptação do livro “Barba ensopada de sangue”, de Daniel Galera, pelo cineasta Aly Muritiba.

Na adaptação, Leone mergulhou em uma jornada de resgate das memórias familiares. A trama segue um professor de educação física que, após a perda do pai, muda-se para um pequeno balneário em Santa Catarina. Lá, ele se lança em uma busca para desvendar os mistérios em torno da morte do avô, ocorrida no mesmo local, embarcando indiretamente em uma jornada de autoconhecimento. Elementos da ficção entrelaçam-se com a história pessoal do artista.

“Fiquei imensamente feliz por participar do filme. Meu avô, do lado paterno, era gaúcho, natural de Cruz Alta, e servia na Marinha. Mais tarde, ele foi transferido para o Rio de Janeiro, onde conheceu minha avó e construiu nossa família. Fui seu primeiro neto e ele foi a grande paixão da minha vida”, recorda Leone.

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Aos 5 anos, o ator testemunhou o falecimento de seu avô, Luiz Carlos. Um trauma que o acompanha até hoje. “O que mais lamento hoje, neste momento especial da minha carreira, é não ter meu avô aqui para compartilhar isso comigo, como minhas avós e meu avô materno, felizmente, estão presentes”, declara.

“O que mais lamento hoje, neste momento especial da minha carreira, é não ter meu avô aqui para compartilhar isso comigo, como minhas avós e meu avô materno, felizmente, estão presentes”

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Gabriel Leone vê paralelos entre seu avô e o personagem principal de “Barba ensopada de sangue”, livro de Daniel Galera que o cineasta Aly Muritiba está daptando para o cinema (Denny Sachtleben/divulgação)

Respeito ao processo

O carisma é uma qualidade marcante em Gabriel Leone. Ele soube que um dos motivos para sua escolha pelo diretor Breno Silveira no papel do criminoso Pedro Dantas, na série “Dom”, foi o seu sorriso. Breno havia conhecido o trabalho do ator na novela “Velho Chico”, exibida em 2016. “Ele [Breno] queria que esse filho, que é o bandido, fosse um cara muito solar. Tivemos bastante contato com muitas pessoas que conheceram o Pedro e disseram que ele era muito carismático. Por outro lado, ele queria que o Victor (interpretado por Flávio Tolezani), o policial, pai de Pedro, que tenta a todo custo salvar o filho, fosse um personagem mais soturno”, explica. A terceira e última temporada de “Dom” estreia em 24 de maio deste ano, no Prime Video.

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Gabriel e Breno tiveram um breve contato, mas a relação de trabalho se transformou em uma forte amizade. “Ele confiou em mim desde o início do projeto, desde o primeiro dia. Sempre dizia: ‘Cara, não quero que você se preocupe muito, nem que se prepare praticamente em nada para esse papel. Vamos criar juntos esse personagem dia após dia’. Ele filmou quase tudo em ordem cronológica, algo muito raro.”

Na segunda temporada, a relação sofreu uma ruptura após a morte repentina de Breno, aos 58 anos, em 2022. Foi um segundo luto na carreira com o qual Leone precisou lidar. Durante as filmagens de “Velho Chico”, o elenco teve que superar a tristeza após a trágica morte do ator Domingos Montagner, afogado no Rio São Francisco. Domingos interpretava o pai de Leone na novela.

“Foi um segundo golpe que sofri. Perder esses dois homens, que foram tão importantes para mim, não só artisticamente, mas também como exemplos de caráter e artistas, foi muito difícil. Esta terceira temporada de ‘Dom’ carrega um pouco dessa tristeza por não termos ele para finalizar esta história. No entanto, ao mesmo tempo, acredito que conseguimos concluir este projeto de uma maneira muito bonita. Foi muito especial, ao fim, ver todas aquelas pessoas, aquela equipe com tantos amigos, que ele juntou.” Para homenagear o cineasta, a escolha foi trazer Adrian Teijido para dirigir a série, que foi um parceiro de trabalho de longa data de Breno.

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O ator passa curta temporada em Los Angeles, ajudando a divulgar seus papéis mais recentes (Denny Sachtleben/divulgação)

Um dos aspectos que ele faz questão de tratar ao falar sobre seus trabalhos é a relação que se constrói nos bastidores. “Tive muita sorte nos encontros que tive. O que tem se tornado cada vez mais evidente ao longo da minha carreira é a importância do processo para mim, mais do que o resultado. É no processo que eu vivo. É o convívio diário que tenho com essas pessoas. Durante as gravações de Senna, passei oito meses trabalhando e convivendo diariamente com as mesmas pessoas, mais do que com minha própria esposa, mais do que com minha família. Por quase um ano, aquelas pessoas foram minha família. Lembro-me quando o Domingos faleceu e sua esposa, Lu (Luciana Lima), me disse: ‘No último ano, você conviveu mais com ele do que ele conviveu com os próprios filhos'”.

Dos diversos obstáculos e preciosidades em seu ofício está a necessidade de se adaptar aos variados processos. Ele recorda o primeiro filme que fez, dirigido por Júlio Bressane, “Garoto” (2015), ao lado de Marjorie Estiano. “Ele [Júlio] tem um estilo de filmar totalmente experimental. Fizemos o longa em uma semana. Ele só filmava um take único de cada cena. Ele acredita que o frescor do primeiro take nunca se repetirá, pois você começará a se julgar a partir dali.”

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(Denny Sachtleben/divulgação)

Acelerando na pista

Em 2022, ele passou três meses em Módena (Itália) para filmar o longa-metragem “Ferrari”, de Michael Mann. Ali, a barreira estava em compreender o método, com as instruções em outro idioma. “Ele gosta de repetir muitos takes. Teve momentos em que repetimos 15 vezes o take inteiro, não era nem a cena, porque ele é tomado por uma inquietude, ele tem uma forma de filmar, na qual vai experimentando a cena por diversos caminhos. Ele te estimula de diferentes formas. Às vezes vai para um caminho e retrocede para a ideia inicial. Tem até um certo caos.”

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Ferrari marcou um novo momento em sua carreira. Com um orçamento astronômico, e o maior set em que já havia entrado até então, Leone teve um insight da primeira vez que entrou em um set de filmagem, quando gravou um episódio de A Grande Família, em 2013. Apesar da novidade, tentou não se deixar deslumbrar e, tampouco, se sentir oprimido. “Prestei atenção no processo dele [de Mann] e eu me abri para aquilo. E decidi que tentaria encontrar uma forma de me divertir durante o processo. É um cara de quem sempre fui muito fã e, ao fim, acabamos nos tornando amigos. Para além de termos nos entendido artisticamente, desenvolvemos um carinho mútuo muito grande.”

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Interpretando Alfonso de Portago em Ferrari (IMDB/reprodução)

Em Módena, Leone soube do próximo desafio que encararia no audiovisual: interpretar Ayrton Senna numa minissérie da Netflix. As filmagens começaram na metade de 2023 e se estenderam por 8 meses. O processo mais intenso e longo de sua carreira, ele resume. “Foi uma grande honra por tudo que ele representa para nós brasileiros e para muita gente ao redor do mundo. Cresci ouvindo as histórias da minha família, dos amigos, sobre o amor, a idolatria que as pessoas tinham por ele. Isso sempre me emocionou muito, sempre me inspirou também.”

Mas além do privilégio, estava também a responsabilidade de encarnar um personagem da realidade, muito conhecido por seus fãs. Isso envolvia a necessidade de aprender os trejeitos, a vocalidade e energia de Ayrton Senna. “Foi quase um ano imerso nesse personagem tão intenso e visceral. Me entreguei de corpo e alma. Foi um momento incrível para mim e para minha carreira.”

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Para compreender aquele personagem, Leone começou pela caracterização, com o figurino e maquiagem, até alcançar, aos poucos, os sentimentos de Senna.

“Fomos experimentando todos os passos de figurino, de maquiagem, os detalhes do cabelo, do nariz, das orelhas até chegar numa imagem em que a gente enxergasse o Ayrton, e, ao mesmo tempo, fazendo essa construção interna de encontrar a energia dele, a postura, seu olhar. Foi necessário muito trabalho de pesquisa, de exercício, de experimentação, erros e acertos, até chegar num caminho em que pudéssemos acreditar. E só então começamos a filmar, mergulhar de vez na história e deixar o Ayrton guiar a gente pelas pistas da vida dele”, conclui o ator.

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Em cena do filme Ferrari (IMDB/reprodução)
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