A categoria de Melhor Atriz em Filme de Drama é sempre uma das mais aguardadas do Globo de Ouro. Além de ser uma das mais importantes da noite, a premiação é um dos grandes termômetros do Oscar. Mas no último domingo (7), a vencedora Lily Gladstone atraiu os holofotes não só pela conquista inédita de sua carreira, mas também por se tornar a primeira mulher que se identifica como indígena a ocupar aquele espaço em 81 edições do prêmio.
Para marcar esse momento histórico, a atriz, que interpreta Molie em Assassinos da Lua das Flores, fez questão de iniciar seus agradecimentos em sua língua nativa, o dialeto Blackfeet, e agradeceu o fato de sua mãe persistir em que ela carregasse esse conhecimento desde a infância: “Eu estou sem palavras. Acabei de falar um pouco do dialeto Blackfeet, a bela nação que me criou, que me incentivou a continuar, a continuar fazendo isso [atuação]. Estou aqui com minha mãe, que, mesmo não sendo indígena, trabalhou incansavelmente para levar nossa língua para a sala de aula, então tive um professor de língua Blackfeet quando era criança. Espero que eu não seja interrompida muito rápido porque esta [vitória] é histórica. Estou tão grata por estar aqui em cima e poder falar um pouco da minha língua nativa, mesmo não a dominando completamente”, disse.
Em seguida, ela fez uma crítica precisa crítica ao mercado (e lógica) de Hollywood. “Nesta indústria, os atores indígenas nativos costumavam dizer suas falas em inglês e depois os mixadores de som reproduziam o som ao contrário para simular as línguas nativas nas filmagens. Esta é uma vitória histórica que não pertence apenas a mim”, pontuou. Na sequência, Lily aproveitou para agradecer aos colegas de trabalho. “Estou segurando esse prêmio junto com todas as minhas lindas irmãs que estão nesta mesa. Com Leo [DiCaprio], Martin [Scorsese], com a minha mãe. Obrigada Marty, obrigada Leo, obrigada Bob. Todos vocês estão mudando as coisas [no cinema]. Obrigada por serem tão aliados.”
A artista é natural da Reserva indígena Blackfeet, que fica em Montana, nos Estados Unidos e direcionou suas últimas palavras exatamente para sua comunidade. “Esse prêmio é para cada criança de reserva indígena, cada criança urbana, cada criança nativa lá fora que tem um sonho, que está se vendo representada e nossas histórias contadas por nós mesmos, em nossas próprias palavras, com aliados incríveis e uma tremenda confiança mútua”, finalizou.
Assassinos da Lua das Flores, longa-metragem de Martin Scorsese, foi indicado a sete categorias do Globo de Ouro, incluindo melhor direção, ator, ator-coadjuvante e trilha-sonora original, porém todas foram arrematadas por Oppenheimer. O filme é inspirado no livro best-seller homônimo de David Grann e foi baseado em um história real. O filme se passa em 1920, em Oklahoma, nos EUA. Uma série de assassinatos na aldeia indígena Osage, região rica em petróleo, leva a uma grande investigação envolvendo o poderoso J. Edgar Hoover, considerado o primeiro diretor do FBI.
Nesse processo, emerge o esquema do pecuarista William Hale (Robert De Niro), que convenceu seu sobrinho Ernest Burkhart (Leonardo Di Caprio) a se casar com Mollie Kile (Lily Gladstone) a fim de melhorar as condições da reivindicação das terras.
A carreira artística de Lily começou na cidade de Seattle. A atriz e roteirista já esteve no elenco de produções como Certas Mulheres (2016), Billions (2016) e First Cow – A Primeira Vaca da América (2019).
Assista ao discurso na íntegra abaixo: