Mafalda vai virar série animada pela Netflix
Criada em 1964, a personagem Mafalda, do cartunista argentino Quino, vai ganhar uma série animada dirigida pelo vencedor do Oscar Juan José Campanella
Um dos cartuns mais queridos da América do Sul, “Mafalda”, do cartunista argentino Joaquín Salvador Lavado Tejón (mais conhecido como Quino), vai ser transformada em série animada pela Netflix. O anúncio foi feito hoje (6) pela plataforma de streaming. A direção e o roteiro ficarão a cargo do cineasta argentino Juan José Campanella, o mesmo diretor do filme “O Segredo dos Seus Olhos”, que venceu o Oscar de Melhor Filme Internacional em 2009.
Criada em 1964, Mafalda se tornou uma das personagens de quadrinhos mais conhecidas e amadas da América Latina. Suas tirinhas foram publicadas até 1973, mas continuam a ser reimpressas e apreciadas por novas gerações. Mafalda é uma menina inteligente, perspicaz e preocupada com a humanidade e a paz mundial. Ela vive em Buenos Aires com seus pais e, através de suas tirinhas, expressa suas opiniões sobre temas como política, sociedade, economia e relações humanas.
Emocionado com o novo desafio – tratado como o maior de sua vida –, Campanella publicou uma comovente carta sobre sua relação com Quino e com a personagem, que teve um profundo significado em sua infância. Leia abaixo:
“Eu tinha sete ou oito anos quando foi publicado o primeiro catálogo de tirinhas de Mafalda em forma de livrinho. Meus pais liam as tiras e me diziam que eu não ia entender. Que ofensa. Que desafio. Corri para comprá-lo e ainda me lembro de subir a ladeira de Melo enquanto lia, dando gargalhadas e admitindo que, de fato, havia tiras que eu não entendia. Mafalda e seus amigos não só me faziam rir muito, mas de vez em quando me mandavam ao dicionário. E cada palavra nova que eu aprendia vinha com o prêmio de uma nova gargalhada.
Logo eu já era mais um da turma da Mafalda. Posso citar muitas piadas de memória, mas como hoje enfrento esse enorme desafio, não vou começar com os spoilers.
Corte para décadas depois, em plena produção de Metegol. O mestre Quino veio visitar nosso escritório de produção. Havia quase 200 artistas de diferentes gerações e para todos nós era como se Deus tivesse entrado. Lembro que foi nesse dia que Quino tentou, pela primeira vez, desenhar com um lápis digital. Um gigante como ele, que inspirou gerações de desenhistas com seu traço, e muitos outros humoristas com seu senso de ironia e comentários perspicazes, estava dando forma a um traço, mas como nunca antes, sem tinta nem papel. Seu entusiasmo era o de uma criança com um brinquedo novo, fazendo dezenas de perguntas. O entusiasmo e a curiosidade de quem nunca acreditou saber tudo.
Desde essa visita, começaram a surgir perguntas. Como podemos reconectar as novas gerações que não cresceram com Mafalda a essa grande obra? Como podemos levar seu engenho, sua mordacidade, às crianças que hoje crescem em plataformas digitais? Como podemos, enfim, traduzir uma das maiores obras da história do Humor Gráfico para a linguagem audiovisual?
Hoje, doze anos depois dessa visita inesquecível, enfrentamos esse desafio. Nada mais nada menos que transformar Mafalda em um clássico da animação. É nossa obrigação preservar o humor, o timing, a ironia e as observações de Quino. Sabemos que não podemos elevar Mafalda, porque mais alta ela não pode estar. Mas sonhamos que aqueles que são devotos dela desde o início possam compartilhá-la com nossos filhos, e embora haja coisas reservadas apenas para adultos, todos possamos soltar uma gargalhada em família, e por que não, recorrer ao dicionário de vez em quando.
Sem dúvida, de longe, o maior desafio da minha vida.”