Mostra de Cinema de Tiradentes abre temporada de festivais brasileiros
A 27ª edição do festival acontece na cidade mineira de 19 a 27 de janeiro e quer impulsionar produções contemporâneas independentes
Em janeiro e fevereiro, o público brasileiro se anima com a temporada de premiações internacionais de cinema. É a hora de colocar os filmes em dia para poder compartilhar as apostas e o entusiasmo. O Brasil, entretanto, também conta com uma série de festivais de cinema para chamar de seu. Como de costume, o Festival de Cinema de Tiradentes, em Minas Gerais, abre a temporada dos festivais brasileiros.
Em sua 27ª edição, o evento acontece entre os dias 19 e 27 de janeiro e reúne 145 longas, curtas e médias-metragens de 20 estados brasileiros, sendo a maioria de Minas Gerais. Na extensa lista, há um pouco para todos os gostos: obras de animação, experimentais, de profissionais amadores e até alguns títulos mais comerciais, como Mussum – O Filmes. Todos acompanhados por uma programação diversificada, com rodas de conversa, oficinas, peças de teatro de rua, cortejo e shows. O mote do festival é impulsionar o cinema contemporâneo, trazendo pontos de vista e estéticas plurais sobre a realidade brasileira.
Neste ano, a curadoria escolheu trabalhar a temática “Formas do Tempo”, explorando a relação de temporalidade no cinema, seja em sua estrutura, no seu modo de fazer, ou no próprio mecanismo de como a indústria tem operado nos últimos anos, com o avanço do streaming. “Podemos pensar que a indústria está se tornando cada vez mais veloz; ela precisa repor constantemente novos produtos nas prateleiras. O streaming, nesse contexto, é o aparato perfeito, pois requer renovação constante. Estamos vivendo em um período de produtos extremamente acelerados, onde o que é atual hoje já parece envelhecido amanhã. Essa lógica contradiz o tempo das atividades humanas, sendo caracterizada por uma aceleração constante”, explica Vogner dos Reis, curador da Mostra Francis
Ele conta que muitos dos filmes da programação refletem essa mecânica do tempo. “O cinema, muitas vezes, busca ir na contramão desse movimento. Ou, pelo menos, enfrentar essa realidade de frente e desvelar essa celeridade. Filmes que frequentemente demandam uma sala, uma experiência coletiva, onde o espectador não tem controle sobre o tempo através de um botão de pausa ou de aceleração.”
Dupla homenagem
Todo ano, a organização presta homenagem a dois artistas. Em 2024, os escolhidos foram o cineasta André Novais Oliveira (39) e a atriz Barbara Colen (37), ambos naturais de Minas Gerais. André fundou, em 2009, a produtora Filmes de Plástico, ao lado de Gabriel Martins, Maurílio Martins e Thiago Macedo Correia. Graduou-se em História pela PUC-Minas e, em seguida, estudou na Escola Livre de Cinema. Desde o início dos anos 2000, tem criado filmes, destacando-se em 2010 com o curta Fantasmas, citado pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema como um dos 100 melhores curtas brasileiros. Sua filmografia inclui filmes como 150 Miligramas (2009), Estado de Sítio (2011), Quintal (2015), Temporada (2018) e outros.
Já Barbara fez sua estreia no filme Contagem (2010), de Maurílio Martins e Gabriel Martins, produzido pela Filmes de Plástico. Posteriormente, participou de obras de destaque nacional, como Aquarius (2016), de Kleber Mendonça Filho, Coração do Mundo (2019), dirigido por Gabriel e Maurílio Martins, e Bacurau (2019), de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dorneles.
Na sessão de abertura, programada para o dia 19, serão exibidos os filmes Quando Aqui, dirigido por André Novais, e Roubar um Plano, do mesmo realizador, em parceria com Lincoln Péricles.
Os filmes serão apresentados em diversas categorias, como Aurora, Olhos Livres, Homenagem, Autorias, Deslumbramento, Invenção, Clássicos de Tiradentes, Olhares Foco, Panorama, Foco Minas, Praça, Formação, Jovem, Regional, Valores, Mostrinha e Filme de Encerramento. Parte da programação das Mostras Homenagem e Panorama poderá ser acessada on-line pelo site oficial da Mostra de Cinema de Tiradentes.
Entre os destaques da programação estão obras como Foram os Sussurros que me Mataram (PR), de Arthur Tuoto, com a participação de Mel Lisboa, Mais um dia Zona Norte, de Allan Ribeiro, vencedor de sete candangos no último Festival de Brasília, incluindo o de melhor filme, Saideira, de Júlio Taubkin e Pedro Arantese, e O Diabo na Rua no meio do Redemunho, de Bia Lessa, uma releitura do romance “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa, com Caio Blat e Luisa Arraes no elenco.
Ao final da semana de Mostra de Tiradentes, uma banca de jurados escolherá os melhores filmes da Mostra Aurora (longas) e da Mostra Foco (curtas). Integram o júri o cineasta Affonso Uchoa (MG), a artista visual e escritora Aline Motta (RJ), a crítica e programadora Juliana Costa (RS), a professora da UFF Lia Bahia (RJ) e o poeta e cineasta Uirá dos Reis (CE). Além disso, os filmes da mostra Olhos Livres serão avaliados pelo Júri Jovem.
Fórum de Tiradentes – Encontros pelo Audiovisual Brasileiro
Uma das novidades da Mostra é o Fórum de Tiradentes, evento paralelo que reúne profissionais de diversos segmentos do audiovisual brasileiro para debater e diagnosticar as dificuldades do setor. A iniciativa foi criada em 2023 como resposta aos últimos anos, com o fim do Ministério da Cultura, que resultou em desestabilização e redução dos investimentos na cultura. Nos encontros, estão previstas participações de Margateh Menezes, ministra da Cultura; Fabrício Noronha, secretário de Estado de Cultura do Espírito Santo e presidente do Fórum Nacional de Secretários e Dirigentes Estaduais de Cultura; Eliane Parreiras, secretária municipal de Cultura de Belo Horizonte e presidente do Fórum Nacional de Secretários e Gestores de Cultura das Capitais e Municípios Associados; e Leônidas Oliveira, secretário de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais.
Confira os títulos da 27ª Mostra de Cinema de Tiradentes:
Mostra Aurora:
“Eu Também não Gozei” (SP), de Ana Carolina Marinho;
“O Tubérculo” (SP), de Lucas Camargo de Barros e Nicolas Thome Zetune;
“Maçãs no Escuro” (SP), de Tiago A. Neves;
“Sofia Foi” (SP), de Pedro Geraldo;
“Not Dead” (BA), de Isaac Donato;
“Lista de Desejos para Superagüi” (PR), de Pedro Giongo;
“EROS” (PE), de Rachel Daisy Ellis.
Olhos Livres:
“Terror Mandelão” (SP), de Felipe Larozza e GG Albuquerque;
“A Câmara” (DF), de Cristiane Bernardes e Tiago de Aragão;
“Foram os Sussurros que me Mataram” (PR), de Arhur Tuoto;
“SOAP” (RJ/SP), de Tamar Guimarães;
“Aquele que Viu o Abismo” (SP), de Gregorio Gananian e Negro Léo;
“Seu Cavalcanti” (PE), de Leonardo Lacca.
Mostra Praça:
“Mussum – O Filmis”, de Silvio Guindane;
“A Festa de Leo”, de Gustavo Melo e Luciana Bezerra e produzido pelo coletivo popular Nós do Morro;
O documentário “As Primeiras”, de Adriana Yañez;
“Mais um dia Zona Norte”, de Allan Ribeiro;
“Saideira”, de Júlio Taubkin e Pedro Arantes.
Autorias:
“Estranho Caminho”, de Guto Parente;
“Tudo o que Você Podia Ser”, de Ricardo Alves Jr.;
“Yvy Pyte – Coração da Terra”, de Alberto Alvares e José Cury;
“O Diabo na Rua no meio do Redemunho”, de Bia Lessa.
Mostrinha:
“Placa-Mãe”, de Igor Bastos;
“Teca e Tuti: uma Noite na Biblioteca”, de Eduardo Perdido, Tiago Mal e Diego M. Doimo;
“Ana e as Montanhas”, de Julia Araújo e Carla Villa-Lobos;
“Diafragma”, de Robson Cavalcante;
“Lagrimar”, de Paula Vanina;
“Maréu”, de Nicole Schlegel;
“O T-Rex e a Pedra Lascada”, de Luã Ériclis.
Deslumbramento:
“Bizarros Peixes das Fossas Abissais”, de Marão;
“Estranho Caminho”, de Julio Bressane.
Clássicos de Tiradentes:
“Meu Amigo Mineiro” (2013), de Gabriel Martins e Victor Furtado;
“Estrada para Ythaca” (2010), de Guto Parente, Luiz Pretti, Pedro Diógenes e Ricardo Pretti.
Curtas
Nas exibições de filmes de curta-metragem (99 produções), destacam-se diversas temáticas, incluindo a precarização do trabalho, a violência contra a comunidade LGBTQIA+, a conexão com a terra e reflexões sobre a masculinidade. Esses elementos emergem de maneira mais evidente na edição de 2024, representando uma amálgama de ressurgimento pós-pandemia e a visão de novos horizontes após os tumultuados anos recentes no contexto político e social do Brasil.
27ª Mostra De Cinema de Tiradentes
19 a 27 de Janeiro de 2024
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