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Cadernos de leituras de Gonçalo M. Tavares

As delícias e as calorias da obra de Gonçalo M. Tavares

Por Carlos Castelo
Atualizado em 3 set 2025, 11h55 - Publicado em 3 set 2025, 08h00
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Costumo ter, de tempos em tempos, uma espécie de ataque aos doces.

Antes é preciso informar: sou uma pessoa que se alimenta basicamente de salgados, não uso açúcar nem no cafezinho. Mas, de quando em vez, do nada, passo a ingerir chocolates, doces caseiros, chicletes e balas sem parar.

Logo, no entanto, aquilo passa e o desejo volta somente anos depois. Acrescento — especialmente nesses tempos caretas — que não se trata de larica. Meu vício inconfessável é apenas o vinho, que fique claro ou tinto.

Curiosamente, o mesmo ocorre com literatura. Fico um tempaço sem ler um autor e, de repente, devoro massivamente seu material. Foi assim com Kafka, Tchekhov, Isaac Bábel e, entre os brasileiros, Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade e Luis Fernando Verissimo.

Agora foi a vez de Gonçalo M. Tavares. Eu havia tomado contato com sua obra através da coleção O Bairro (Leya), mais especificamente do tomo O Senhor Brecht, em que um homônimo do dramaturgo alemão narra fábulas do arco da velha num distrito imaginário. À época adorei aquela leitura, mas a exemplo dos doces, a vontade cedeu com apenas uma abocanhada.

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Há poucos dias abri O Senhor Henri e a Enciclopédia, da mesma coleção da Leya, e a voracidade pelos textos de Gonçalo M. Tavares voltou a me assaltar. Na sequência já engoli o hilário O Senhor Valéry e, o mais poético e inclassificável de todos, O Homem ou é Tonto ou é Mulher.

São livros divertidos e curtos que podem ser absorvidos muito rapidamente. Por isso, ao terminá-los, já iniciei o consumo do mais famoso e premiado livro do angolano, Jerusalém (Companhia das Letras). Realmente, concordei com Saramago, que disse ter ficado com vontade de bater naquele cidadão que escrevia tão bem com apenas 35 anos de idade.

O livro é de uma economia e uma sobriedade notáveis, mas as entrelinhas são tão terríveis quanto a de um filme de horror. Poucos chegam a esse sarrafo nas letras. E menos ainda metaforizam a violência imanente em nós, os seres humaninhos, de maneira tão contundente. Jerusalém é perfeito para ser lido nesses tempos odiosos e odientos pelos quais navegamos sem bússola.

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Diferente da outra vez, o desejo pelas letras tavareanas parece que não vai se embora tão cedo.

Mal terminei Jerusalém e já estão na minha estante, três títulos dele: O Torcicologologista, Excelência, Animalescos e Short movies — todos da Dublinense.

Longa e doce vida ao Gonçalo!

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