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Dose dupla de Mathieu Lindon

A editora Nós acaba de lançar dois livros do escritor francês que você precisa incliuir na sua coleção: "Hervelino" e "O que amar quer dizer"

Por Laís Franklin
Atualizado em 22 nov 2023, 13h27 - Publicado em 13 nov 2023, 16h34

editora Nós acaba de lançar dois livros do escritor e crítico literário Mathieu Lindon. Bastante pessoais, eles tratam de duas figuras muito próximas do autor. Em “Hervelino, o francês recorda principalmente os anos que ele e o autor Hervé Guibert passaram na Itália, no final da década de 1980, como bolsistas da Villa Médicis, marcados pela recente descoberta de que Guibert era soropositivo.

“O que amar quer dizer” aborda a relação de Lindon com Michel Foucault, uma espécie de professor sem hierarquia que lhe emprestava seu famoso apartamento na rua de Vaugirard, lhe acompanhava em viagens de ácido e lhe concedia a calidez de uma amizade verdadeira. Os livros já estão à venda e você pode adquirir o seu nos links abaixo:

Livro "O que amar quer dizer", de Mathieu Lindon

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A figura do pai como totem e tabu é temática universal na literatura. No caso de Mathieu Lindon, a sombra do pai teria tudo para ser imobilizadora. Seu pai, Jerôme Lindon, fundador da renomadíssima editora francesa Èditions de Minuit, poderia ser uma barreira perene para toda possibilidade de literatura. Poderia ser o arquétipo da superioridade: do amor que não chega, dos livros inatingíveis. A relação entre Lindon pai e Lindon filho era, afinal e a um só tempo, amorosa e distante, cândida e fria, com o acréscimo de uma espécie de interdito com relação aos autores extraordinários publicados pelo pai. Esta é a história de como esse arquétipo foi superado e ressignificado, por uma outra figura magnética que permeou a vida de Mathieu com a mais fiel das amizades. Michel Foucault foi, para o jovem que era Lindon então, uma espécie de professor sem hierarquia, que lhe emprestava seu famoso apartamento na rua de Vaugirard, que lhe acompanhava em viagens de ácido, que lhe concedia a calidez de uma amizade verdadeira. Que lhe ensinava, sem saber ou intencionar, no ir e vir do afeto entre amigos, o que amar quer dizer: o maestro por acaso de uma educação sentimental. A relação com Michel, que Mathieu Lindon, com sua mão generosa, põe em permanente paralelo com a que tinha com seu pai, matizada pelas vivas descrições da vivência homossexual na sociedade parisiense da época, está aqui descrita com luto, mas também com irreverência, nesta espécie de carta tomada de ternura. Livro vencedor do Prêmio Médicis de 2011.

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Livro "Hervelino", de Mathieu Lindon

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Um apelido íntimo, delicado, símbolo de uma amizade profundamente terna, é o título deste livro: Hervelino. Quando gentilmente Mathieu Lindon abordou Hervé Guibert, que se esquivava sozinho no canto do apartamento de Michel Foucault – “Você está de castigo, Hervé Guibert?” –, não sabiam ainda os dois jovens da intensidade da relação que se avizinhava. Um amor amigo desses difíceis de retratar, talvez mesmo indizível, sobretudo se observado através do luto que tragicamente o interrompeu. Nessas páginas marcadas pela melancolia, sim, mas também pela leveza que o correr dos anos permite, Mathieu Lindon recordará principalmente os anos que ele e Hervelino passaram na Itália, no final da década de 1980, como bolsistas da Villa Médicis, marcados pela recente descoberta de que Guibert era soropositivo. Hervelino faleceu em 1991. O livro em sua homenagem, entretanto, virá ao mundo somente em 2021, tamanho o trabalho que este luto aqui exposto exigiu. Esta autobiografia em permanente conversa com o outro é a homenagem de Lindon ao amigo, um dos grandes escritores franceses da segunda metade do século XX, que o consagra como um mestre do romance memorialista. Hervelino está presente em cada linha desta honestíssima ode ao amor.

 

 

 

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