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Entenda as metáforas do livro Moby Dick, de Herman Melville

Épico sobre a obsessão, romance não foi compreendido em sua época, mas a multiplicidade de leituras que recebeu a longo do tempo mostra sua universalidade

Por Redação Bravo!
14 nov 2024, 09h00
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Ilustraçãode Moby Dick. Mistérios da vida por meio de metáforas (Bravo! 100 livros essenciais da literatura mundial/acervo rede Abril)
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Moby Dick foi um fracasso de vendas quando lançado, em 1851. Herman Melville (1819-1891) tinha então 32 anos e já era autor de cinco romances. O público ficou decepcionado, porque aguardava a mesma aventura de apelo popular de Typee (1846), baseada na experiência do autor marinheiro nos Mares do Sul.

A crítica se dividiu. Ora exultou a obra como grandiosa e o personagem Ahab, o capitão do navio Pequod, como o “Macbeth dos mares”, ora tratou o livro como uma extravagância. Moby Dick estava adiante de seu tempo. Não era apenas a história de um capitão em busca da baleia que lhe extirpara a perna.

A ousada exploração metafórica de Melville da obsessão de um homem por seu ato de vingança não foi bem compreendida. Numa época em que os Estados Unidos viviam um período de expansão econômica, otimismo e sentimentalismo, Melville ofereceu a seus leitores uma obra “elaborada, simbólica, rapsódica e pessimista”, conforme a análise do escritor John Updike.

A história de Moby Dick é contada por Ismael, jovem que decide embarcar num navio baleeiro. A pesca da baleia representava, então, uma das principais atividades econômicas da Nova Inglaterra. Espécie de erudito no assunto, Ismael descreve os mitos que acompanham a caça aos grandes animais ao longo da história.

Mas o fulcro de suas considerações está no capitão Ahab, que leva o navio Pequod pelos mares, na ensandecida caçada pela baleia branca que ninguém consegue abater, Moby Dick. A obsessão faz Ahab dar a volta ao globo terrestre dez vezes. Ao longo da detalhada perseguição à baleia, Melville dramatiza as preocupações mais profundas de Ahab, as virtudes e falhas do espírito humano, assim como sua pulsão criativa e assassina.

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Quando o capitão finalmente se depara com a presa, o imediato Starbuck tenta demovê-lo do confronto e Ahab exclama: “Louco! Sou o lugar-tenente do destino; cumpro ordens”. E trava-se a luta entre o capitão e a baleia. Ao final, apenas Ismael sobrevive para contar o embate.

Ao longo das décadas, a obra recebeu variadas interpretações. Há quem tenha interpretado as figuras do capitão e da baleia como símbolos do bem e do mal. O monstro branco seria um animal demoníaco que deve ser combatido, seja no fundo do mar, seja no coração do homem. Outros afirmam que foi a baleia, animal bíblico, que teve seu paraíso invadido pela maldade humana.

De acordo com o escritor D. H. Lawrence, a tripulação do Pequod é um grupo de maníacos que representam a alma americana e a suposta vida civilizada. Outros críticos apontam Ismael, o narrador, como a voz da consciência humana. Já a obstinada perseguição de Ahab constituiria a alegoria da luta do homem contra o próprio destino.

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Apesar do revés comercial, Melville persistiu escrevendo obras carregadas de simbologia. Entre elas destaca-se o romance O Vigarista (1857), que apresenta o drama entre o ser e o parecer na história de um chantagista que recolhe esmolas e doações para falsas obras de caridade. Melville, então, cada vez mais distante de seu antigo público, acaba por assumir o cargo de inspetor de alfândega em Nova York, em 1866.

Depois de aposentar-se, começa a escrever sua última obra, Billy Budd (1924), que trata da história de um marujo caluniosamente acusado por outro marinheiro de ter planejado um motim. Ao assassinar o acusador, é condenado à forca. Na obra, deixada incompleta com a morte do autor, mais uma vez examinam-se o bem e o mal e o mistério da natureza humana em metáforas de grande ressonância.

Esta matéria faz parte do especial “100 obras essenciais da literatura mundial” e foi originalmente publicada na Revista Bravo! em 2009.

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