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Entenda o livro “Cem anos de solidão”, de Gabriel García Márquez

A saga de uma família na onírica Macondo é o maior sucesso do realismo mágico, popularizando a literarura latino-americana no mundo

Por Redação Bravo!
Atualizado em 3 Maio 2024, 12h12 - Publicado em 24 abr 2024, 10h00

“Era irrepetível desde sempre e por todo o sempre, porque as estirpes condenadas a cem anos de solidão não tinham uma segunda oportunidade sobre a terra.” Essa foi a terrível constatação do último dos Aureliano Buendía, quando desvenda nos pergaminhos do cigano Melquíades o destino já cumprido de sua família. Seu filho, e último descendente da dinastia, morrera engolido por formigas e agora ele se dava conta de que as oito gerações dos Buendía estavam, desde o princípio, condenadas à solidão e à extinção junto com Macondo, cidade onde viveram e que ajudaram a fundar.

É sobre a saga dessa família e as desventuras dessa cidade que Gabriel García Márquez baseou sua obra-prima Cem Anos de Solidão (1967). Misturando fatos históricos da sua Colômbia natal a um farto uso do registro fantástico, o autor criou o principal romance do realismo mágico – responsável pelo chamado boom internacional da literatura latino-americana nos anos 1970.

O romance conta a trajetória dos Buendía em Macondo, desde o primeiro casal – Jose Arcádio Buendía e Ursula Iguarán – até a completa desintegração do clã. A repetição do nome dos filhos, netos, bisnetos e trinetos e sua idêntica sina de solitários e impossibilitados de amar reforçam a sensação de tempo cíclico no qual a história evolui. No pequeno povoado de Macondo, o fantástico – como as pragas da insônia e do esquecimento que atingem a população ou o fato de um homem ser seguido por um cortejo de borboletas amarelas – faz parte do cotidiano. Há muito da Aracataca da infância de Gárcia Márquez em Macondo.

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No pequeno povoado de casinhas coloridas, cercado por plantações de banana, ele cresceu educado pelos avós, contadores de história que serviram de inspiração para seus primeiros passos nas letras. O escritor começou escrevendo contos para o jornal El Espectador, de Bogotá, no qual também trabalhou como jornalista. Sua descoberta literária, porém, se deu quando ele voltou a Aracataca: “Nada havia mudado muito; senti que não estava apenas olhando para a vila, mas vivendo uma experiência […] Era como se tudo que eu via já houvesse sido escrito. Só era preciso copiar o que já estava lá”.

Nascido em 1928, García Márquez era um escritor de vendagens modestas e pouca visibilidade literária até o sucesso extraordinário de Cem Anos de Solidão, que vendeu milhões de exemplares desde o seu lançamento. Com o romance, deu notoriedade ao estilo que segundo ele desenvolvera a partir do modo narrativo ouvido da avó: “Ela contava coisas que pareciam sobrenaturais e fantásticas, mas as contava com completa naturalidade”.

Para moldar sua matéria-prima, o autor também empregou o método do monólogo interior aprendido nas obras de James Joyce, Virginia Woolf e William Faulkner. “Apenas uma técnica como a de Faulkner poderia ter me capacitado para escrever o que estava vendo”, disse ele. Depois de Cem Anos de Solidão, García Márquez lançou Crônica de uma Morte Anunciada (1981) e o Amor nos Tempos do Cólera (1985), mantendo uma produção literária constante até meados da década de 1990.

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Seguiu-se quase uma década de silêncio literário, interrompido com o lançamento de sua vasta obra jornalística (reunindo tanto suas atividades na Colômbia quanto como correspondente em Roma, Paris, Nova York, Havana, México e Espanha), com o primeiro volume de sua autobiografia Viver para Contar (2002) e com a novela Memória de Minhas Putas Tristes (2004). O autor recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1982.

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