Quem foi Zumbi dos Palmares e como surgiu o Dia da Consciência Negra?
Conheça mais sobre a história do líder quilombola que lutou contra a opressão escravocrata do Brasil Colonial
Falar sobre o Mês da Consciência Negra é falar sobre o resgate de uma herança cultural. Não há como mencionar novembro negro sem relembrar a história do último líder do Quilombo dos Palmares: Zumbi. Uma das personalidades mais conhecidas pela luta contra a escravidão do Brasil Colonial, junto a tantas outras personalidades negras, abriu caminho para a revolução e virou símbolo de resistência.
Não por acaso, o dia que marcou sua morte, 20 de novembro de 1695, virou esta data simbólica que é o Dia da Consciência Negra. Zumbi morreu lutando em defesa do Quilombo dos Palmares. Lugar que surgiu em meados do século XVI e recebeu este nome devido a quantidade de palmeiras que tomavam conta da região. Conhecida hoje como Serra da Barriga, Zona da Mata do Estado de Alagoas, o local foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, em 1986.
Como Zumbi se tornou líder do Quilombo dos Palmares?
Não há descrições físicas sobre Zumbi. Segundo o livro “Enciclopédia Negra” (Companhia das Letras), de autoria do historiador Flávio dos Santos Gomes, do artista visual Jaime Lauriano e da antropóloga Lilia Moritz Schwarcz, o que se sabe é que reconstruíram uma face biográfica a partir de pesquisas e publicações de Décio Freitas (1922-2004).
Nascido em 1655, pouco se sabe sobre a história de vida do líder antes de assumir tal posição no quilombo. Ainda de acordo com a publicação, Zumbi foi capturado na infância, tendo sido criado por um padre que o batizou de Francisco e o alfabetizou em latim e português. Já na adolescência, com 15 anos, Zumbi teria fugido e voltado para Palmares, de onde foi levado quando era pequeno.
Em 1677, com 22 anos, já era considerado “general das armas” ou “mestre de campo”. De acordo com a descrição da enciclopédia, esta versão de Décio Freitas foi baseada em pesquisas no Arquivo Histórico Ultramarino, na Torre do Tombo, Biblioteca da Ajuda e no Arquivo da Casa de Cadaval.
Importante frisar que não se têm notícias sobre a localização exata da documentação encontrada nos acervos portugueses e atribuída à biografia de Zumbi.
Por outro lado, um fato é inegável: Zumbi conquistou grande respeito com suas habilidades como guerreiro, sendo a principal liderança do quilombo entre 1678 e 1695.
Antes de ocupar o posto, Ganga Zumba era o líder local. Porém, Zumba estava sendo chantageado pelas lideranças da capitania de Pernambuco, dado que alguns familiares haviam sido sequestrados e usados como barganha para aceitar o acordo. A proposta estipulava que os negros nascidos em Palmares seriam livres, e em contrapartida, os refugiados precisariam voltar à escravidão.
A oferta aceita por Ganga Zumba gerou grande revolta interna, tendo parte dos quilombolas — incluindo Zumbi — a lutarem contra ele. Não se sabe se Ganga foi morto pelos antigos companheiros ou pelos portugueses, mas com isso, Zumbi assumiu o posto em 1678.
Alguns anos após tais conflitos, aconteceu a expedição de Domingos Jorge Velho, bandeirante contratado para destruir o quilombo, e que solidificou o ato em 1694. Com o assolamento da terra, conhecida como Cerca Real do Macaco, sobreviventes se viram obrigados a fugir da região, inclusive Zumbi.
Zumbi sobreviveu durante cerca de um ano nas matas que se abrigou com alguns companheiros, e teve seu esconderijo denunciado por um de seus aliados que havia sido capturado.
O último líder do Quilombo dos Palmares foi decapitado em 20 de novembro de 1695.
Como funcionava a vida no Quilombo dos Palmares?
A comunidade quilombola era composta por pequenas aldeias na região que corresponde a Alagoas e Pernambuco. O termo ‘quilombo’, inclusive, significa ‘povoação’, em tradução da língua banto, bastante comum entre a população africana trazida do continente ao Brasil.
Os mocambos, ou ‘esconderijos,’ eram habitados por pessoas que haviam sido escravizadas e buscavam refúgio. Todo o conjunto destas pequenas aldeias formou o que ficou conhecido como o Quilombo dos Palmares. Acredita-se que mais de 20 mil habitantes ocuparam tais terras durante um período de 100 anos.
Já o cotidiano do quilombo pode ser descrito como similar a uma coletividade camponesa, onde a terra e os bens eram de uso comum, tendo uma liderança que representava o grupo de moradores, segundo informações do Museu Afro Brasil.
Sendo assim, tal sistema político funcionava com uma produção material e econômica com base na produção de flechas, foices, artefatos, cerâmicas, além da criação de animais e pequenas produções agrícolas, sendo comercializado com habitantes de regiões próximas.
Levando em conta todo este contexto que representava perdas econômicas para fazendeiros e colonizadores da época, o Quilombo dos Palmares sofreu mais de 30 expedições durante sua existência, resistindo a todas elas até o final do século 17.
Enciclopédia negra: Biografias afro-brasileiras
De Abdias do Nascimento a Zeferina e Zumbi dos Palmares, 416 verbetes biográficos que encenam um reencontro do Brasil com a memória silenciada de milhões de pessoas negras.
Vencedor do Prêmio Jabuti na categoria “Ciências Humanas”.
Zumbi dos Palmares como símbolo de resistência
Zumbi teve uma vida marcada pela luta contra a opressão escravocrata e de resistência dos povos quilombolas no Brasil, conquistando assim um importante papel na história do povo negro.
A simbologia de sua trajetória marcada pela libertação dos povos escravizados reverbera até hoje em uma data que surgiu para relembrar a identidade cultural do país, a valorização da herança afro-brasileira, além de levantar discussões sobre a reparação histórica necessária após 500 anos de escravidão.
Zumbi conduziu por 17 anos a resistência palmarina e a repercussão de seus feitos políticos marcaram a história brasileira, virando assim um símbolo de herói nacional.