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A história por trás de “Como nossos pais”, de Belchior

Grito contra a rendição de uma geração ao conservadorismo é inesquecível na voz de Elis Regina

Por Redação Bravo!
Atualizado em 30 out 2024, 16h10 - Publicado em 30 out 2024, 08h00
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Belchior em 1988: contra o conformismo  (João Santos / Chico Nelson/acervo rede Abril)
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Em fevereiro de 1976, com 30 anos, dois filhos e no segundo casamento, Elis Regina lançou o disco Falso Brilhante, resul­tado do enorme sucesso do espetáculo homônimo que ficou em cartaz no Teatro Bandeirantes, em São Paulo, por mais de dois anos. As músicas que abrem o LP, “Como Nossos Pais” e “Velha Rou­pa Colorida”, foram feitas por um compositor que havia gravado apenas dois discos e passava dificuldades em São Paulo. Entre a chegada do cearense Belchior (Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes) ao Rio de Janeiro e o registro histórico de “Como Nossos Pais” na voz de Elis, passou-se meia década.

Em 1971, ele começou a despontar no meio musical ao vencer o 4º Festival Universitário da MPB com a canção “Na Hora do Almoço”, interpretada por Jorge Melo e Jorge Teles. Cinco anos depois, Belchior viveria um ano definitivo em sua vida. Seu segundo álbum, Alucinação, vendeu 30 mil cópias em um mês e rendeu-lhe mais notoriedade graças ao lançamento de quatro grandes sucessos: “Apenas um Rapaz Latino-americano”, “A Palo Seco”, “Velha Roupa Colorida” e “Como Nossos Pais”. As duas últimas canções chamaram a atenção de Elis e foram escolhidas para abrir o disco Falso Brilhante, que contém parte do repertório do show.

A emoção dos palcos foi carregada pela cantora para o estúdio, onde ela teve de gravar o álbum em pouco mais de 24 horas, pois o espetáculo era apresentado ininterrup­tamente de terça a domingo. Quando Belchior resolveu ir à casa de Elis para lhe mostrar “Como Nossos Pais”, ele passava por problemas financeiros. A si­tuação estava tão complicada que a cantora até pagou a corrida do táxi para o amigo de vasto bigode. Ela já havia gravado uma canção do compositor cearense, Mucuripe, em 1972, feita em par­ceria com o conterrâneo Raimundo Fagner.

Assim que ouviu “Como Nossos Pais” pela primeira vez, Elis sabia que tinha uma “granada sem pino” nas mãos, um sucesso certeiro prestes a estourar. Dona de temperamento forte e senso crítico incisivo, ela se identificava com o desabafo irônico da letra que criticava a letargia de uma geração que andava, mas não saía do mesmo lugar. Gente que desfraldara as bandeiras libertárias e iconoclastas da geração de 68, mas que, com a chegada da matu­ridade, se rendia a modelos de identidade e relacionamento quase tão conformistas e conservadores quanto os das gerações ante­riores. ”Minha dor é perceber/ Que apesar de termos/ Feito tudo o que fizemos/ Ainda somos os mesmos/ E vivemos/ Ainda somos os mesmos/ E vivemos/ Como os nossos pais”.

A gravação da primeira faixa do LP Falso Brilhante marca uma transição musical na carreira da intérprete. “Como Nossos Pais” as­sinala a aceitação e a incorporação de mais um estilo no repertório de Elis, o pop. O que não quer dizer que os arranjos — feitos pelo marido e pianista César Camargo Mariano — tenham deixado de ser brilhantes e sofisticados. Exemplo disso são as gravações poste­riores de canções como “Romaria”, de Renato Teixeira, e “Aprenden­do a Jogar”, de Guilherme Arantes.

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Esse texto foi publicado originalmente em 2008, no especial “100 canções essenciais”

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Capa da edição especial de Bravo!: 100 canções essenciais (Bravo!/acervo rede Abril)
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