Entenda a trilha-sonora de "Ainda Estou Aqui

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O poder narrativo das trilhas sonoras é incomparável, especialmente quando bem aplicadas. Ela reflete a visão do diretor, sua alma e fala com o inconsciente coletivo de forma precisa.

A canção de Roberto Carlos e Erasmo Carlos, que abre o filme – É preciso dar um jeito, meu amigo – resume o clima da história e é icônica. “E na minha caminhada, obstáculos na estrada, mas enfim estou aqui. Mas estou envergonhado com as coisas que eu vi, mas não vou ficar calado. No confronto acomodado, como tantos por aí. É preciso dar um jeito, meu amigo”.

No caso de Roberto, que abre com Detalhes, além de “Debaixo dos Caracóis de Seus Cabelos” e “As Curvas da Estrada de Santos”, é “Como Dois e Dois”, escrita por Caetano Veloso, que tem maior destaque  porque essa pequena canção de saudade e separação não é de amor. Roberto abre avisando “Quando você me ouvir cantar, venha, não creia. Eu não corro perigo”. Perigo de que? “Quando eu canto eu sou eu mudo, mas eu não minto”, avisa.

Claro que o Tropicalismo não poderia ficar de fora. O movimento que revolucionou a cultura brasileira ao misturar elementos da música popular tradicional com influências do rock, da vanguarda artística e da cultura pop, está na trilha sonora com pérolas de Caetano Veloso, Gal Costa, Tom Zé, e Os Mutantes, entre outros. Na época era algo como diga-me o que ouves e te digo de lado estás.

As músicas estrangeiras selecionadas também têm significado político. Por exemplo, a polêmica “Je T’Aime Moi Non Plus”, gravada por Jane Birkin e Serge Gainsbourg (e que é sobre sexo) chegou a ser proibida no Brasil por ser imoral. “Petit Pays”, de Cesária Evora também tem camadas políticas por cantar sobre minorias e saudade, usada em uma cena particularmente emocionante no filme.

Outro grande destaque na coletânea é “Take Me Back to Piauí”, de Juca Chaves. A canção do compositor, músico e humorista brasileiro foi lançada em 1970 e toca no almoço de despedida de Eliana, que vai morar em Londres, e Rubens troca o disco na vitrola e puxa a dança. Juca Chaves era conhecido por seu estilo irreverente e crítico, combinando elementos de sátira política e humor refinado na sua música. Crítico ativo da Ditadura, foi exilado em Portugal e na Itália.