Como retrato de Marilyn Monroe feito por Andy Warhol revolucionou a pop art
Obra so principal artista da pop art transforma imagem repetida à exaustão em ícone de uma estética que denuncia a fetichização
A morte de Marilyn Monroe, em agosto de 1962, teve um efeito incandescente para o americano Andy Warhol (1928-1987). Não havia imagem melhor para a operação que o consagrou: tirar do mundo publicitário, dos ícones que se repetem à exaustão, um fragmento para eternizar numa espécie de monumento a um passado digerido pela imprensa e consumido pela massa.
Nome central da pop art, Warhol dava continuidade ao que o francês Marcel Duchamp fizera 40 anos antes com o objeto de arte, levando um urinol ao museu. É o deslocamento do banal para a esfera da arte, a imagem corriqueira que se congela e, sob novos matizes de cor, vira coqueluche, objeto de obsessão.
A pop art funciona com base na apropriação, mas, para surtir o efeito desejado, também precisa operar na mesma lógica de reprodução, repetição e diluição que pauta o show business, a imprensa, a publicidade e a indústria das celebridades. Esse aspecto, somado à forte carga de morbi- dez, foi o tema mais caro a Warhol.
“Em agosto de 1962, comecei a fazer as impressões, queria algo com esse efeito de linha de montagem. O processo é tão simples, rápido e impreciso que me deixou extasiado.” Ele se referia ao método que acabava de descobrir: ampliava uma fotografia, no caso a de Marilyn Monroe, aplicava essa imagem com cola a uma tela permeável e jogava tinta por cima da cola, deixando passar, então, o negativo da imagem para a tela. Cada vez que repetia os passos, a imagem final saía um pouco diferente da anterior, como a fotocópia da fotocópia.
Warhol buscava a imagem desfeita, interrompida e interrogada. Tirava de circulação as imagens que fizeram manchete, reconhecíveis sem que se precise olhá-las com atenção, repetidas como o refrão de uma canção pop. Transforma assim o banal em mito, que penetra direto no inconsciente sem passar por uma análise intelectual.
Por isso, o uso estridente da cor em Warhol remete à técnica expressionista dos fauvistas franceses, como Henri Matisse. Mas, à diferença deste, Warhol não procurava ilustrar sensações.
Suas cores são as da cultura pop, gritantes, sedutoras e agressivas como o mundo em que se inserem. Não à toa, Marilyn Monroe virou ícone depois de morta, assim como Elvis Presley, imagem que abraçou os Estados Unidos, ou Jackie Kennedy, lembrada no momento mais trágico de sua vida. Warhol traduziu como ninguém o espírito dessa América que transforma tudo em espetáculo e consumo, até mesmo a morte.