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OLÁ,

Um recomeço para o Anima Mundi

Em uma entrevista exclusiva, César Coelho, um dos fundadores do festival de animação, discutiu as perspectivas de retomar o evento em 2024

Por Humberto Maruchel
Atualizado em 13 set 2023, 12h54 - Publicado em 12 set 2023, 12h25
Anima Mundi
 (Anima Mundi/arquivo)
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Lembra do Anima Mundi? O festival de animação foi criado em 1993 e acontecia tanto no Rio de Janeiro quanto em São Paulo, além de viajar por algumas outras cidades do país. Era um dos maiores e mais importantes festivais desse setor no mundo, sendo o maior da América Latina. Durante 26 anos, o evento fundado por Aída Queiroz, César Coelho, Marcos Magalhães e Léa Zagury, ocorreu com grande sucesso e testemunhou uma notável transformação no mercado brasileiro de animação. Segundo o animador César Coelho, o Brasil saiu de um cenário de “terra arrasada” no campo cultural e se tornou um grande exportador de talentos e produções de animação. Mais de 50 países participavam anualmente, trazendo desde produções experimentais completamente independentes até obras que concorriam ao Oscar. O festival também impulsionou o trabalho de artistas como Alê Abreu, indicado ao Oscar em 2016 com o filme O menino e o mundo.

No entanto, seus últimos anos foram marcados por diversas crises, que atingiram o ápice em 2019, quando os fundadores foram notificados de que a Petrobras, patrocinadora master do evento, havia retirado seu patrocínio alguns meses antes do evento acontecer. A organização do festival se viu no dilema de cancelá-lo e lidar com uma enorme dívida ou tentar recorrer à ajuda dos fãs. Escolheram a segunda opção e apelaram para o financiamento coletivo. Deu certo; eles foram surpreendidos da melhor maneira possível. Até mesmo festas de arrecadação de recursos foram realizadas por influenciadores e produtoras. Em dois meses, bateram a meta arrecadando mais de R$ 400 mil, e o evento pôde ocorrer em uma versão mais modesta. No entanto, desde então, com uma pandemia no meio do caminho, a competição deixou apenas saudades.

Anima Mundi
(Anima Mundi/arquivo)

Porém, tudo pode mudar em 2024, afirma César. Não falta vontade para retomar o evento, tanto por parte dos fundadores quanto por parte dos potenciais patrocinadores. “As conversas já estão acontecendo”. Neste papo, o animador e criador do festival fala sobre as mudanças no setor, e a perspectiva de fazer um novo Anima Mundi no próximo ano.

César, muito obrigado por essa conversa. Poderia retomar a história do Anima Mundi? Como surgiu a ideia de criar o festival?
A história começa na década de 1980, quando houve um convênio entre Brasil e Canadá por conta da compra de um satélite. Houve uma concorrência, e uma empresa canadense contou com o governo de seu país para vitaminar a proposta, e oferecia vários convênios de cooperação técnica entre o Canadá e o Brasil. O Canadá ganhou, e quase todos esses convênios eram na área de engenharia. Tinha um que era na área artística, especificamente na área de animação, entre a Embrafilme [ou Empresa Brasileira de Filmes S.A.] e o National Film Board of Canada. Esse segundo é uma instituição muito forte, uma meca na animação. E a ideia era treinar 10 artistas brasileiros com profissionais de lá. O acordo foi coordenado no Brasil pelo Marco Magalhães. E eu fiz parte dos 10 alunos selecionados.

A ideia brotou. O National Film Board é uma instituição estatal, criada para integrar o Canadá através do cinema e combater movimentos separatistas. O Canadá tinha diferentes culturas espalhadas pelo país inteiro. Nós vimos o quanto isso podia ser aplicado no Brasil. Temos dimensões geográficas continentais, culturas totalmente diferentes. Mais do que nunca, o Brasil precisava de integração. E durante esse convênio, surgiu a ideia de tentarmos replicar essa situação no Brasil.

No final de 1989 o convênio acabou, e foi cada um para o seu lado. Em 1993, nos juntamos de novo. A Léa tinha ido estudar nos EUA, na California Institute of the Arts (CalArts), e voltou de lá muito animada, querendo passar os filmes dos alunos. Na época havia aberto o CCBB-RJ, e sugerimos fazer lá. Conversamos com o Carlos Alberto de Matos, que era o responsável pela área de Cinema. Ele gostou da ideia e decidiu patrocinar a iniciativa. Nós não esperávamos isso, fomos de alegres.

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cartazes Anima Mundi
(Anima Mundi/arquivo)

Como estava o mercado de audiovisual, especificamente da animação naquela época?
O cinema estava em uma situação difícil, a cultura brasileira estava desprotegida. A animação não tinha nenhum reconhecimento. Ela se limitava a comerciais. Pensamos que seria uma boa ideia promovê-la como uma forma de arte. Surgiu a ideia de realizar uma mostra. Além disso, queríamos destacá-la como uma forma diversa de arte. No Brasil, estávamos acostumados a pensar em animação apenas como algo voltado para crianças.

O festival começou a crescer muito mais do que imaginávamos. A demanda era tão alta que dobramos a capacidade, mas o público continuou aumentando. Fomos nesse caminho até nos tornarmos um dos festivais de animação mais importantes do mundo. Ficamos ambiciosos e, diante da excelente receptividade, entramos em contato com vários consulados e trouxemos filmes de diferentes países. Além disso, realizamos uma retrospectiva da animação brasileira.

“O cinema estava em uma situação difícil, a cultura brasileira estava desprotegida. A animação não tinha nenhum reconhecimento. Ela se limitava a comerciais. Pensamos que seria uma boa ideia promovê-la como uma forma de arte”

fundador do Anima Mundi, César Coelho
(Anima Mundi/arquivo)
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É uma sorte poder testemunhar esse tipo de transformação.
Me sinto muito privilegiado por termos vivenciado isso. O que aconteceu foi uma mudança radical. No primeiro ano, realizamos uma mostra dos filmes brasileiros independentes existentes até então. No ano seguinte, ficamos dependentes de novos filmes, mas não havia nenhum disponível. Era uma sensação de terra arrasada. Conforme o festival foi se consolidando e ganhando destaque na mídia, começamos a atrair animadores que estavam desanimados com o cenário. Eles começaram a criar filmes especialmente para o festival e a produção começou a crescer. Recebemos sete filmes no início, e depois 45. Chegamos a um ponto, nos últimos anos do festival, em que recebíamos cerca de 300 novas obras brasileiras por ano.

Isso demonstrou o que queríamos provar. A estratégia do festival foi se aperfeiçoando. A primeira ideia era construir um público e mostrar que a animação tinha uma audiência interessada. Se pudéssemos demonstrar que havia demanda, poderíamos estimular a oferta. Assim, nos consolidamos como uma atração popular e atraímos artistas brasileiros. Realizamos diversas ações nesse sentido. Após as exibições nos cinemas, promovíamos oficinas de animação, permitindo ao público experimentar a técnica de animação e ver os resultados imediatamente. Queríamos capacitar o público para entender melhor o processo de animação e desenvolver um senso crítico mais apurado. Também buscávamos atrair novos talentos.

Hoje em dia, a maioria dos brasileiros que trabalham com animação tem em torno de 30 anos, e muitos tiveram seu primeiro contato com a animação no Estúdio Aberto do festival. Além disso, começamos a importar conhecimento. Convidamos profissionais de diferentes áreas, como computação gráfica, roteiro, animação 2D e produção, para ministrar oficinas. Trouxemos esses profissionais para compartilhar seu conhecimento, em áreas em que estávamos muito atrasados.

A partir de 2006, criamos o Anima Fórum, uma seção específica para profissionais onde debatemos o mercado e reunimos todas essas experiências do festival. Começamos a envolver órgãos de fomento, emissoras de televisão e distribuidoras. Diversas iniciativas surgiram a partir disso. Hoje, podemos afirmar que temos uma indústria de animação bastante forte no Brasil.

Anima Mundi 2019
(Anima Mundi/arquivo)
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Em 2019 vocês recorreram a financiamento coletivo. O que aconteceu? Vocês enfrentaram alguma crise nesse momento?
Entendemos que o Anima Mundi fazia política pública. Compreendíamos que, devido aos financiamentos públicos que recebíamos, essa era a nossa obrigação. Era essencial que o festival crescesse e se tornasse grande, pois ele era um dos principais promotores da animação brasileira no exterior.

Além disso, o mercado de animação sempre foi muito influenciado pela reputação. Muitas vezes, a reputação precede qualquer grande negócio. A primeira voz da animação brasileira a ser reconhecida no mercado internacional era geralmente associada ao Anima Mundi.

No entanto, éramos dependentes de patrocínio. A partir de 2016 e, mais intensamente em 2017, esse apoio começou a diminuir. Até que, em 2019, os patrocínios foram cortados. Recebemos cartas informando que os patrocínios que tínhamos mantido por décadas não seriam mais concedidos. Essas cartas não continham assinatura e foram enviadas meses antes do festival. Isso foi um grande choque para nós. Optamos por recorrer ao financiamento coletivo, que exigia uma quantia significativa para complementar o orçamento. O festival estava programado para julho, e em maio conseguimos atingir a meta. Foi uma mobilização nacional, com pessoas de várias cidades do Brasil organizando eventos para arrecadar fundos.

Conseguimos bater o recorde na plataforma de financiamento coletivo. Se não tivéssemos atingido a meta, teríamos acumulado uma dívida enorme que não poderíamos pagar. Consideramos que, enquanto a situação permanecesse assim e não houvesse o mínimo interesse em patrocínio, não teríamos meios para realizar o festival. Não víamos sentido em realizá-lo on-line, por exemplo.

A boa notícia é que existe a possibilidade de o festival retornar. Estamos em negociações e recebemos várias propostas de patrocínio. Planejamos retomar o festival com uma nova equipe para nos ajudar. As perspectivas são positivas.

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Você comentou que em 2016 a situação financeira do Anima Mundi começou a sofrer alguns abalos. Isso se deu pela situação política do país?
Certamente, isso ocorreu devido a uma cegueira política e ao preconceito de acreditar que o dinheiro destinado às artes, como a Lei Rouanet, por exemplo, é concedido a artistas renomados para poderem gastá-lo em bebidas caras. No entanto, essa não é a realidade. Em todo o mundo, a indústria cinematográfica recebe parcialmente incentivos governamentais, incluindo nos Estados Unidos.

Anima Mundi 2016
(Anima Mundi/arquivo)

Teve alguma medida específica, naquele período, que afetou a forma de financiamento do festival?
Houve orientações para que grandes empresas, como a Petrobras, o BNDES e o Banco do Brasil, deixassem de apoiar eventos culturais. Além disso, houve outro expediente utilizado, seja por incompetência ou competência excessiva, especialmente na área do audiovisual, que se traduziu na falta de definições claras. Durante esse período, tivemos inúmeros secretários do audiovisual. Um indivíduo assumia o cargo, era alvo de diversas denúncias, não era empossado efetivamente, e o cargo permanecia vago até que uma nova nomeação fosse feita. O próximo nomeado também acabava recebendo várias denúncias. Isso nos deixou em um estado de indefinição regulatória na esfera estatal por anos.

“Certamente, isso ocorreu devido a uma cegueira política e ao preconceito de acreditar que o dinheiro destinado às artes, como a Lei Rouanet, por exemplo, é concedido a artistas renomados para poderem gastá-lo em bebidas caras. No entanto, essa não é a realidade. Em todo o mundo, a indústria cinematográfica recebe parcialmente incentivos governamentais, incluindo nos Estados Unidos”

Quando surgiu a possibilidade de retomar o festival?
Com a mudança do governo. Até a eleição de 2022, fomos sondados algumas vezes. Quando o resultado da eleição se confirmou, as sondagens ficaram mais concretas.

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Anima Mundi
(Anima Mundi/arquivo)

O que é necessário, em termos de recurso, para retomar o festival?
Nos termos do que costumávamos fazer, em duas cidades, com 10 dias no Rio de Janeiro e cinco em São Paulo, em uma sequência contínua, naquela época, variava entre 7 e 10 milhões de reais. Em 2018, realizamos um mapeamento da animação brasileira para demonstrar o quanto o setor cresceu nos últimos anos, de 2008 a 2018. A indústria de animação brasileira saiu praticamente do zero para começar a exportar propriedade intelectual, não apenas preenchendo o espaço televisivo com obras brasileiras, mas também exportando para o exterior.

Eu sou um entusiasta da animação desde a infância, mas naquela época, não encontrava nenhuma série brasileira. Nenhum dos personagens que eu gostava era brasileiro.

A impressão é que a animação sofre muito mais com os monopólios, em relação ao audiovisual de forma geral. Qual é a sua opinião a respeito disso?
Isso é verdade, mas também apresenta diferentes aspectos. No início, precisávamos conquistar a confiança do mercado internacional. Tínhamos que provar que éramos capazes, não apenas tecnicamente, mas também de criar propriedade intelectual que fosse bem recebida, ou seja, que funcionasse tanto no Brasil quanto na América Latina e na Europa. Aos poucos, fomos conseguindo isso. O Brasil entrou no mercado de animação de forma proativa. Poderíamos ter sido apenas um país prestador de serviços para ideias de terceiros, como animar uma série americana. No entanto, não foi esse o caminho que escolhemos. Entramos no mercado internacional com nossas próprias propriedades intelectuais, vendendo nossos próprios personagens. Isso não foi fácil.

Naquela época, a televisão era uma plataforma crucial, e os canais abertos eram os principais veículos de exibição. Uma das principais fontes de receita na animação era a publicidade e o licenciamento de produtos com base nos personagens. No Brasil, competíamos com séries estrangeiras que eram oferecidas gratuitamente aos canais. Eles não precisavam pagar pelos direitos de exibição, já que a série já estava paga lá fora. Apenas o detentor da série tinha a oportunidade de explorar o licenciamento no Brasil. Como poderíamos competir com isso?

Havia estratégias de proteção e financiamento locais em vigor, embora a intensidade delas variasse de país para país. Na França, por exemplo, isso era muito forte. No Brasil, também houve iniciativas excelentes, como a Lei 2485 (Lei do SeAC/2011), que assegurou espaço para obras brasileiras na TV a cabo, bem como o fundo setorial. No campo da animação, houve um programa específico chamado Anima TV, que financiou 10 pilotos de séries brasileiras. Muitos deles acabaram se tornando séries de sucesso. Posteriormente, após a criação do fundo setorial, os produtores tinham a oportunidade de concorrer a financiamento e ter o fundo como sócio em suas produções. Isso possibilitou a sobrevivência dos grandes estúdios em grande escala.

Anima Mundi
(Anima Mundi/arquivo)

O quanto o mercado de animação brasileira cresceu?
A maioria dos estúdios de animação costumava ter apenas duas pessoas. Hoje em dia, existem estúdios com dezenas de funcionários. No entanto, ainda enfrentamos uma competição desleal nas salas de cinema. Temos dificuldade em encontrar espaço. Nos multiplexes, que possuem muitas salas, muitas vezes várias delas exibem o mesmo filme. Às vezes, as produções nacionais ocupam apenas horários da tarde em uma única sala. Após o fim da obrigação de cota de tela, essa situação se tornou ainda mais desafiadora. Apesar disso, o cinema ainda é uma plataforma de lançamento essencial. Atrai público, o que é especialmente importante para a animação, já que muitos desses longas-metragens dão origem a outras produções e séries.

Na TV a cabo, algo curioso aconteceu. Quando a lei foi implementada, os canais fizeram reclamações e campanhas contrárias. Porém, acabou sendo uma fonte lucrativa para eles. Durante alguns anos, muitos canais produziram séries brasileiras acima das cotas exigidas. Isso é uma perspectiva otimista. No entanto, questões econômicas tornam as negociações com o exterior desafiadoras.

Como assim?
Um dos maiores compradores de conteúdo de animação são as plataformas de streaming, e as negociações com elas são bastante desafiadoras, principalmente no que diz respeito ao financiamento e à manutenção dos direitos de propriedade intelectual. A maioria das vezes, ao negociar com essas plataformas, é necessário abrir mão dos direitos autorais, quase que integralmente. Para lidar com essa situação, precisamos de regulamentação e do apoio das produtoras. O investimento para manter uma produtora de animação é extremamente alto.

Uma das conquistas que alcançamos entre 2014 e 2015 foi a percepção de que era importante negociar não apenas a produção de um projeto, mas também o desenvolvimento de um conjunto de trabalhos, o que chamamos de núcleo criativo. Em outras palavras, um núcleo que se dedica a criar vários projetos ao longo de muitos anos. Essa abordagem se mostrou muito inteligente.

É essencial que as produtoras de animação tenham projetos com perspectivas de 10 anos. Dessa forma, é possível estabelecer um planejamento que engloba toda a cadeia produtiva e evita a perda de talentos.

“Na TV a cabo, algo curioso aconteceu. Quando a lei foi implementada, os canais fizeram reclamações e campanhas contrárias. Porém, acabou sendo uma fonte lucrativa para eles. Durante alguns anos, muitos canais produziram séries brasileiras acima das cotas exigidas. Isso é uma perspectiva otimista. No entanto, questões econômicas tornam as negociações com o exterior desafiadoras”

Anima Mundi
(Anima Mundi/arquivo)

Isso está relacionado ao que está acontecendo com a greve dos roteiristas em Hollywood.
Exato. Estamos vivenciando uma mudança civilizatória no mundo, que está ocorrendo rapidamente. Até recentemente, acreditávamos que, independentemente das mudanças, os criadores não seriam substituídos, mas agora temos a inteligência artificial (IA). Hoje em dia, muitas pessoas acreditam que essa ferramenta é suficiente para criar. Alguns produtores compartilham dessa visão. Uma das razões para a greve é impedir que a IA seja usada para criar roteiros.

Outro ponto importante é que, quando iniciamos o Anima Mundi e analisamos a indústria de animação brasileira, revelamos o quanto as sessões de animação estavam lotadas e o quanto o público apreciava as animações brasileiras. Mostramos isso com números. Argumentamos que era necessário parar de importar animadores e começar a importar animações. Isso, de fato, aconteceu. No entanto, com a crise, a pandemia e a evolução do mercado, o cenário mudou completamente. Hoje em dia, muitos trabalhos de animação são realizados on-line, sem barreiras geográficas. Produtoras estrangeiras começaram a contratar nossos profissionais, há uma escassez de animadores no Brasil. Isso destaca a importância de ter um fórum que mantenha essas discussões sempre atualizadas.

Pensando em todas essas mudanças, você tem alguma ambição adicional para o festival?
Uma das coisas que queremos fazer é fortalecer a área de mercado. Nós já organizamos eventos para o público, mas também queremos expandir as atividades voltadas para o mercado. Criamos essa estratégia, onde compradores, distribuidores e executivos passam pelo público antes de participar das discussões nas salas de conferência. Como o público do Anima Mundi é bastante envolvido, essa abordagem funcionou bem. A espinha dorsal do festival permanecerá, que é valorizar a animação independente como uma forma de arte. Mostramos filmes com potencial comercial, mas também experimentais, artísticos e muito pessoais. Além disso, pretendemos incorporar novas tecnologias, como jogos e o cinema live-action.

Anima Mundi
(Anima Mundi/arquivo)

Como vocês planejam fazer isso se, de fato, se concretizar? Pretendem aumentar as atividades on-line?
Acredito que devemos explorar essa possibilidade on-line, trazendo artistas virtualmente. No entanto, é importante considerar que o Anima Mundi é, essencialmente, um evento de experimentação. Ele precisa ser presencial, pois ativa muitos estímulos e proporciona imprevistos que fazem parte da experiência. As pessoas também estão muito carentes para se encontrarem pessoalmente.

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