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Com show “Travessia”, Pitty e Emicida provam que inovar é misturar ritmos

Os artistas se apresentaram juntos no festival João Rock, que aconteceu no último sábado em Ribeirão Preto

Por Beatriz Lourenço
13 jun 2024, 09h00

A cantora Pitty é conhecida por produzir um rock marcado por guitarra e bateria potentes. A música de Emicida, por sua vez, varia entre o rap e o samba. A combinação sonora dos dois artistas parece inusitada mas o resultado é fascinante e agregador tanto para os músicos quanto para o público. 

Ser eclético, hoje, é entender que a mensagem das canções importa tanto quanto os instrumentos. Nesse sentido, Pitty e Emicida são semelhantes. Ambos traduzem o amor, a luta e a vontade de viver em um mundo mais solidário. É por isso que eles resolveram apresentar o show intitulado de “Travessia”, que mescla sucessos que integram o repertório dos artistas, com novos arranjos e formação de banda. 

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De cima para baixo: Emicida e Pitty (Rafael Cautella/divulgação)

A performance pode ser vista, pela primeira vez, no festival João Rock, que aconteceu no último sábado (08/06), em Ribeirão Preto. O conceito artístico uniu a cor amarela (em alusão ao projeto ‘AmarElo’, do rapper) com o roxo (cor da ‘ACNNXX’, turnê de Pitty), como forma de encerrar um ciclo e dar início a uma nova etapa em suas respectivas carreiras.

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O espetáculo foi dividido em três atos: o primeiro, nomeado “Poente”, contou com canções reflexivas. Na sequência, “À Meia Noite”, o foco foram as faixas mais dramáticas que descrevem conflitos particulares de cada um. Por último, “Aurora”, sinaliza a esperança de seguir adiante. O resultado foi uma explosão de sensações que só a música consegue causar (ou potencializar). O começo do encontro se deu com “Hoje Cedo”, melodia lançada em 2013 que analisa a romantização da vida de artista, seguido de letras como “Admirável Chip Novo”, “Teto de Vidro” e “A Ordem Natural das Coisas”. 

“No fim das contas, a gente fala arte em todas as línguas.”

Pitty
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Pitty (Rafael Cautella/divulgação)

A novidade é que a dupla convidou a atriz Alice Carvalho, protagonista de “Cangaço Novo” e atualmente no ar em “Renascer”, para dirigir o conteúdo audiovisual do show, que depois será transformado em curta-metragem com uma história original. A seguir, confira um papo sincero com Emicida e Pitty:

Quais são os pontos positivos de participar de um festival de música?

Pitty: O que gosto de tocar em festival é o fato da gente tocar para um público diverso. Estamos ali tocando para uma galera que não está só para ver a gente. Isso é um exercício muito massa para quem está no palco, sabe?! Porque você está fazendo a sua onda para quem está ali para assistir artistas diversos, muitas vezes de estilos diferentes. E adoro um backstage de festival, é a única hora que a gente encontra os amigos, na verdade.

Emicida: Todo mundo se encontra, tem esse intercâmbio de plateia mesmo. Tem uma coisa que é diferente da estrada. Na estrada, no seu show só seu, muitas vezes você já está com o jogo meio ganho. Em festival tem essa coisa de você ter que seduzir as pessoas, se apresentar para esse público de vários outros artistas. Tem uma coisa que eu também acho foda que é de ver os artistas novos aparecendo. Pessoas que a gente acompanha, torce, e é muito bonito ver o nome deles crescendo ano a ano no line-up. 

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Pitty e Emicida se apresentam juntos no festival João Rock 2024 (Rafael Cautella/divulgação)

O que faz um festival de música se destacar em meio a tantos que estão sendo programados e criados no Brasil?

Pitty: Eu acompanho o João Rock há muitos anos e vi o festival crescer. Eles têm algumas iniciativas que acho massa. Tem essa coisa do concurso para as bandas novas, fortalecendo a cena. Sempre tem um palco voltado para outros estilos. O que acho mais sensacional é que é um festival de música brasileira. A gente tem uma demanda do público brasileiro pelos artistas nacionais, isso é uma lição. 

Emicida: Mais que uma lição, é um farol. Esse tipo de postura precisa ser uma referência em um país que tem uma cultura tão vibrante como a nossa.

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Pitty: E um público do tamanho do nosso. Sempre falo muito de representatividade toda vez que subo naquele palco. Porque sempre vem a pergunta “cadê as outras meninas?”. Eu já carreguei um monte de mulher comigo no palco. E agora tem um palco só com bandas e artistas mulheres. Então acho que as iniciativas vão se somando. A gente vai construindo todo ano. E outra coisa que eu acho massa no João Rock é que sinto que a gente tem um espaço ali, não é engessado. Podemos chegar e propor coisas novas, que é o que estamos fazendo agora. Temos a liberdade criativa de apresentar o show que a gente acredita. 

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O público durante o show Travessia (Rafael Cautella/divulgação)

Vocês são dois artistas com sonoridades diferentes. De que forma os dois se complementam e aprendem um com o outro?

Emicida: Essa é uma parada muito doida de pensar. Conceber o setlist e ver as músicas junto foi uma coisa que mexeu muito comigo. Quando eu estava escutando para propor coisas, estudando também, senti uma vibração espiritual, energética, muito próxima das músicas. Um certo estado de espírito.

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Pitty: Durante o ensaio, percebi que tem várias palavras que o Emicida já usou na música dele que eu também já usei na minha. Fui vendo essa conexão. É como o Emicida falou: a nossa linha de raciocínio sobre os assuntos tem a ver. Isso já se sentia desde antes, mas agora estamos mais próximos, a gente conseguiu mergulhar muito na obra um do outro. Tanto que esse show não é um show de Pitty e Emicida, é um show de junção dessas duas figuras, dessas duas obras. Foi um espetáculo criado para ser híbrido e funciona sendo híbrido. Não é uma forçação de barra. 

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Emicida no João Rock (Rafael Cautella/divulgação)

Emicida: É tudo uma coisa só ali, indivisível. Meio que uma coisa estrutura a outra para poder entregar o espetáculo como um todo. O repertório poderia até ser maior. A gente fez uma seleta e decidimos: beleza, aqui tem a fina flor. 

Pitty: Foi montado com muito carinho, com todos os detalhes, pensando em tudo, pensando nessa experiência. E é isso que fiquei viajando: a gente tem linguagens estéticas – o rap e o rock – mas elas dialogam. E no fim das contas, a gente fala arte em todas as línguas. Então estou aprendendo a falar que nem rapper, tá? Ele está me ensinando.

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