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Um papo com Marcelo Freixo sobre turismo cultural

Bravo! conversou com presidente de Embratur durante a Flip sobre como a cultura pode ser um motor de estímulo ao turismo local

Por Humberto Maruchel
Atualizado em 26 jan 2024, 14h28 - Publicado em 26 jan 2024, 08h49
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 (intervenção sobre foto de Sara de Santis/Flip/divulgação)
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Para Marcelo Freixo, presidente da Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur), a cultura pode ser um importante instrumento para fomentar o turismo em um determinado território. A literatura, por exemplo, pode oferecer novos significados a espaços do nosso cotidiano.

Na sua opinião, o Rio representa um exemplo de como arte e turismo podem andar de mãos dadas. Em 2025, a cidade receberá o título da Unesco de Capital Mundial do Livro, sendo a única de língua portuguesa a alcançar esse status. Com isso, o município assume a responsabilidade de realizar eventos para promoção da literatura.

“Atualmente, o centro do Rio de Janeiro é um desafio, encontra-se vazio e sem gerar empregos. Qual seria a solução? É necessário ocupar o centro para revitalizá-lo. Será que a cultura e a literatura não podem ser instrumentos de reocupação, proporcionando uma nova perspectiva? A obra de Machado de Assis, por exemplo, percorre a beça a Rua do Ouvidor, mas não há nada que associe a via ao legado de Machado de Assis”

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Freixo na época da candidatura à prefeitura do Rio (Felipe Fittipaldi – 2016/acervo rede Abril)

A reflexão foi compartilhada durante um debate sobre rotas literárias, na 21ª Festa Literária Internacional de Paraty. As rotas literárias consistem em itinerários que exploram locais associados a personagens, obras ou movimentos literários. Elas têm o propósito de proporcionar uma experiência imersiva aos amantes da literatura, permitindo a visita a lugares relacionados a escritores famosos, obras importantes, cenários de histórias ou eventos literários.

Dublin, na Irlanda, é um exemplo, já que a cidade que foi o lar de escritores como James Joyce e Samuel Beckett, e possui uma rota literária que destaca locais associados às suas vidas e obras.

“Eu sou cria do Paulo Freire, e ele tinha uma fala muito importante que dizia que é preciso aprender a ler o mundo. Quando falamos de rotas literárias, estamos conectando conhecimento a território e produzindo um tipo de saber. Ao traçar uma rota que explora literatura, prédios públicos, personagens e autores, você rediscute o papel das cidades e redefine a identidade daquela localidade. De alguma maneira, você está estimulando a leitura. A cultura é transversal sempre; ela não existe isoladamente”, afirmou Freixo.

No Brasil, Paraty tem se destacado como a capital da literatura, justamente por abrigar a maior festa literária do país. As rotas literárias são apenas um exemplo. Outras regiões e estados também apresentam importantes manifestações culturais que prosperam por meio da arte. Em Minas Gerais, Tiradentes abriga festivais importantes, como o de Cinema e de Fotografia, atraindo milhares de visitantes anualmente.

Fora do país, Nova York, nos EUA, é um dos maiores exemplos. Os musicais e peças da Broadway atraem amantes do teatro de todas as partes do mundo, assim como seus renomados museus e galerias, como o Museu Metropolitano de Arte (Met), o Museu de Arte Moderna (MoMA) e a Galeria de Arte Frick Collection. Investir nessa cultura, portanto, torna-se uma maneira indireta de fortalecer o turismo local.

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“A natureza do turismo é transversal, inevitavelmente. Quando podemos associar o turismo à Educação, à Literatura, você vai redefinir o lugar que está visitando a partir de determinada obra. E através disso, você produz leitura de mundo. Pensar no turismo como forma de desenvolvimento é pensar também num mundo melhor”

Bravo! conversou rapidamente com o presidente da Embratur sobre a importância de criar políticas públicas para fomentar o turismo através da cultura.

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(Sara de Santis/Flip/divulgação)

Tivemos muitos exemplos nos últimos anos de como políticas de Estado podem minar conquistas significativas, tanto no campo da Educação quanto na Cultura. Pensando nesses dois setores, quais seriam boas políticas públicas para incentivar o turismo cultural?
O Turismo é uma disciplina interdisciplinar o tempo todo. É o lugar onde a iniciativa privada e a pública se encontram e colaboram inevitavelmente. A política pública emana dos órgãos públicos, municipais, estaduais e federais, mas as iniciativas de investimento provêm da rede privada. Portanto, esse entendimento entre o mundo público, o gestor público e a iniciativa privada, com investimentos nas áreas culturais e nos territórios, é crucial. Quando se estimula, promove-se o Brasil, convidando as pessoas a conhecer nossa cultura, autores e personagens literários. Isso resulta em visitas à cidade, estadias em hotéis, refeições em restaurantes e uma permanência prolongada. É um casamento entre o que é de interesse público e o setor privado.

Como o Brasil pode promover o turismo sustentável, valorizando as comunidades locais e respeitando suas histórias e tradições? Existem medidas específicas para equilibrar a promoção do turismo com a preservação cultural?

Chamamos isso de Turismo de Base Comunitária. Temos promovido isso em todo o Brasil, seja em quilombos ou em populações originárias. Ao enfrentar o desafio de criar uma política de turismo para a Amazônia, assim como em lugares como Paraty, onde existem populações tradicionais muito fortes, isso se torna uma experiência que o mundo deseja conhecer. O mundo não busca apenas os destinos tradicionalmente divulgados, mas deseja ter uma experiência autêntica que se conecte com a alma do local. Isso possui um grande potencial de mercado e pode ser uma alternativa de vida para essas comunidades.

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(Sara de Santis/Flip/divulgação)

Quando falamos de turismo, muitas mulheres e pessoas de grupos minorizados enfrentam o medo de viajarem sozinhas, com o receio de enfrentar algum tipo de violência. Quais são os obstáculos para enfrentar essas questões?
Acredito que, na verdade, existe um debate sobre solução, causa e efeito. Quanto mais desenvolvemos o turismo, mais segurança teremos, pois haverá mais pessoas nas ruas, gerando empregos e renda. Estamos debatendo a solução. Procurei o ministro da Justiça, temos um projeto de capacitação e treinamento de policiais mulheres nos estados para trabalharem com mulheres que viajam sozinhas para o Brasil. Podemos implementar projetos específicos que abordem essa demanda de segurança, simultaneamente ao fato de que o turismo em si já contribui para a criação de um ambiente mais seguro.

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Neste novo cargo, o que mais chamou sua atenção na experiência do Rio de Janeiro em relação ao turismo? Quais são as questões que precisam ser superadas?
O que mais me chamou a atenção é a alegria do povo. É uma população extraordinariamente alegre, que todos no mundo desejam conhecer. Convidamos as pessoas a visitar o Cristo Redentor, o Maracanã e o Pão de Açúcar, claro, mas também a explorar nossa literatura, a visitar o centro da cidade e a nos ajudar a construir o Rio de Janeiro em que queremos viver.

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