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Douglas Lemos é o sambista da nova geração que você precisa conhecer

Artista do Rio de Janeiro acaba de lançar o terceiro álbum da carreira, DG da Glória; Conheça sua história e carreira aqui

Por Gabriel Dias
14 dez 2023, 11h12
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 (You Know my Face/divulgação)
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Se as letras de Douglas Lemos fossem fotografias, seriam de personagens destacados entre a multidão, suspensos no tempo cronológico e belos por seus gestos ordinários. E isso só é possível por Douglas ser um vouyer da vida, sobretudo da vida que acontece entre os bairros da Glória, do Catete e da Lapa. Depois de ter sido regravado por Marcelo D2 em seu disco Iboru, o terceiro álbum de sua carreira, DG da Glória, chegou em todas as plataformas digitais no final de novembro, eternizando a boemia do Rio de Janeiro e unindo a tradição do samba carioca com sonoridades do rap, do jazz, da salsa e do carimbó.

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(You Know my Face/divulgação)

Outro dia, bebendo com os rappers BK e Sain, Douglas brincou: “Vocês sempre falaram que as ruas da Glória eram de vocês. Mas não são. São do samba”. Enquanto o movimento do skate e do rap crescia na região do KGL (Catete, Glória e Lapa), ele só queria saber de ouvir João Nogueira, Aldir Blanc, Paulo César Pinheiro e outros medalhões. Frequentava as aulas de violão na Escola Portátil, no Centro, e todas as rodas possíveis que existiam na cidade.

Ele tinha uma comunidade com os amigos no Facebook que servia para resgatar alguns sambas esquecidos, ou não tão conhecidos, e mergulharem nas obras de compositores. Até que, em 2014, marcaram de se encontrar no bar Rainha do Sul, no Flamengo, para tomarem umas cervejas e cantarem alguns desses sambas. Neste dia de janeiro foi fundado o grupo Sambachaça, formação com que se apresenta até hoje cantando somente o lado B do gênero. Os amigos presentes eram Breno Barreto, João Matheus, Matheus Camelier, Michel Misse, Marcos Schmidt, Leandro Resende e Matheus Quelhas (um dos fundadores do Sambachaça, que deixou este plano recentemente acometido por um câncer). 

A viagem de DG
Durante a Copa do Mundo de 2014, que aconteceu no Brasil, Douglas trabalhou em um quiosque da praia de Copacabana e juntou um dinheiro. Seu francês malandro lhe rendeu boas gorjetas. E, com essa quantia, decidiu viajar para a Europa sozinho. Despediu-se dos amigos e da cidade maravilhosa no Samba do Trabalhador, onde tirou uma foto com Moacyr Luz — quando sequer imaginava que o artista viria a ser o seu maior parceiro musical. Em setembro, publicou o primeiro vídeo do seu canal no YouTube, chamado “Cantando Cartola na varanda”. Nele, está na casa de uma amiga na cidade de Graz, na Áustria, e o violão lhe era a única companhia.

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“Eu pedia para os meus amigos do Sambachaça continuarem o grupo sem mim. Eu sempre fui o organizador dos eventos, mas não queria que o movimento acabasse por causa da minha viagem. Falava: tem que fazer pelo menos uma vez por mês. Eu lembro de um dia no fim do ano em que o grupo ia tocar no Bar da Nalva e eu estava na Áustria. Botei umas cervejas na varanda para gelar na neve e coloquei um disco do Candeia. Fiz um churrasco sozinho e fiquei bebendo à tarde inteira, só pensando no samba, com vontade de estar no Rio”.

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(DG da Gloria/arquivo pessoal)

Para se sustentar, tocou samba e bossa nova em alguns bares da Áustria. Depois, se hospedou na casa de uma antiga namorada em Berlim e continuou se apresentando nos restaurantes locais. “Eu não costumo falar muito sobre essa fase porque vagabundo pode falar que é perrengue chique. Só eu sei o que eu passei. Vivia com muito pouco, tocando muitas vezes no metrô para poder pagar as contas”.

Para não ficar ilegal no exterior, ele retorvava para o Brasil a cada três meses. Os cachês que guardou da viagem pagaram o seu primeiro EP, Douglas Lemos, gravado em 2016 e lançado em 2017. Seu professor de violão, Rafael Mallmith, arranjou as canções. Os músicos tocaram na camaradagem e Douglas já demonstrava seu dom de crônica com melodias não convencionais nesta estreia de 5 faixas autorais. “Essa viagem mudou a minha vida”.

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Momento de Virada
Douglas não acreditou quando viu Moacyr Luz na Glória. Sempre quis saber onde o sambista morava, e ficou feliz em descobrir que vivia no mesmo perímetro que ele. De tanto vê-lo, se tornaram amigos. “Eu seguia ele no Twitter e comentava as coisas dele. Até que ele me notou e me adicionou no Facebook. Ele me mandou uma mensagem falando: ‘e aí, da Glória! Vê se aparece no meu show, bebida com preço acessível’. Eu fui lá e começamos a nos falar, mostrei algumas canções minhas para ele. Até que passou um tempo e, em 2017, ele me mandou a letra de ‘Camisa Desabotoada’”. Moacyr se viu no jovem sambista, que só andava com gente mais velha vestindo camisa de botão. Douglas fez a melodia da canção e gravou para o seu primeiro disco, Ruas da Minha História, lançado em 2018.

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(DG da Gloria/arquivo pessoal)

Em 2021, lançou com Moa o álbum Jogo de Cintura, com produção musical do próprio Moacyr Luz e arranjo do Carlinhos 7 Cordas. O disco veio com 12 faixas compostas pelos dois sambistas e ganhou contracapa escrita pelo compositor, historiador e professor Luiz Antônio Simas, que disse:

“Tem gente que vai dizer que Douglas Lemos é antigo. Concordo em parte e digo isso como um tremendo elogio. Douglas é antigo e, ao mesmo tempo, contemporâneo pra cacete. Vou mais longe: só é contemporâneo porque é antigo; sabe fazer a ponte entre o que fomos e o que podemos ser. E anotem aí, porque vou dar uma de São João Batista de birosca, bradando entre cervejas ‘cu de foca’ e anunciando a boa nova: o samba do Rio de Janeiro, que passa necessariamente pela obra maior de Moacyr Luz, passará certamente, em um futuro mais próximo do que imaginamos, pelo Douglas Lemos”.

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A faixa “Duras Penas”, presente no disco, foi regravada por Marcelo D2, em seu novo álbum “IBORU”.

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(You Know my Face/divulgação)

 

Melhor de três
O terceiro álbum da sua carreira, DG da Glória, aquece em uma percussão orgânica e beats eletrônicos ao fundo de um áudio da sua avó Odaléa lhe desejando bom dia. É com ela que Douglas está em sua primeira memória musical, por volta de uns 6 anos, em um ônibus, a caminho de sua escolinha de futebol de praia. O músico fez uma canção rimando os nomes dos prédios da Rua Barata Ribeiro, em Copacabana. Seu primeiro contato com a música já é criando.

E o que vem a seguir é o realismo mágico carioca, a lupa de aumento que transforma simples encontros em fatos extraordinários. Douglas escolheu regravar a canção “Pelas Ruas da Cidade”, de Paulo César Pinheiro, uma de suas maiores referências de poetas das esquinas, para lhe abrir os caminhos. O partido-alto “Mesmo Se O Samba Se Acabar” (letra de Douglas com Cadé Farias) tem malandragem e impulso como pregava Candeia. E o Doutor Fritz, citado por João Nogueira em “Esta Noite Tive Um Sonho”, abusou do seu alemão novamente em “Sujeito Letrado”, em mais uma parceria com Moacyr Luz.

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(You Know my Face/divulgação)

O músico passeia pelo samba-choro, pelo samba-canção e pelo carimbó até chegar no jazz “Catete, Glória e Lapa”, uma canção que une coro coletivo com poesia falada e faz ponte com a cena do hip hop que viu crescer durante toda a sua trajetória. “Naquela época, esses artistas [BK, Sain, Filipe Ret] estavam começando a fazer barulho. E eu falava: não tenho tempo para ouvir rap, tô estudando samba’. Ficava o dia todo tirando músicas da velha guarda da Portela e da Mangueira no violão. Mas, hoje, quase não ouço samba. Precisei sair para encontrar novas referências para esse disco. Pesquisei muitas coisas latinas, como a salsa cubana e o candombe uruguaio. Também gostei de morna, gênero típico de Cabo Verde, na África, e do jazz estadunidense. E me abri para o rap. Tem que fechar com os caras, né”. Além da parceria com Sain em “Santa dos Prazeres”, vale ressaltar que Douglas também está presente no novo álbum do rapper, chamado “KTT ZOO”, na faixa “Noturno KGL”.

Além de Douglas e Moacyr, outros grandes sambistas viveram no bairro da Glória, como Paulão 7 Cordas, Elton Medeiros e Wilson das Neves. Só faltava ficar eternizado nas letras. Como DG conta: “todas as minhas referências cantam sobre seus lugares. João Nogueira escrevia sobre o Méier, Aldir Blanc falava sobre a Tijuca. Agora, eu quero botar a Glória no mapa do samba”.

Escute o álbum DG da Glória completo abaixo:

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