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SP-Arte Rotas Brasileiras 2024: 6 galerias para visitar e refletir sobre a fé

Feira ocupa a ARCA, do dia 28 de agosto a 1 de setembro, oferecendo uma imersão na obra de 250 artistas de 14 estados; 20 mil pessoas são esperadas na visitação

Por Beatriz Lourenço
Atualizado em 5 set 2024, 12h14 - Publicado em 23 ago 2024, 05h00
Exposição Rotas Brasileiras, na ARCA
Feira de Arte Rotas Brasileiras (Rotas Brasileiras/reprodução)
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A relação entre arte e fé é complexa e multifacetada. Na Idade Média, por exemplo, esses dois elementos eram indissociáveis, pois as obras artísticas serviam como ferramenta de doutrina religiosa. Durante o Renascimento, a Igreja Católica foi fundamental no patrocínio de muitos artistas, encomendando obras de mestres como Michelangelo, Leonardo da Vinci e Rafael. Essas criações não apenas celebravam a religião, mas também revelavam o poder e a riqueza da Igreja.

Toda essa reflexão estará presente na terceira edição do SP-Arte Rotas Brasileiras, que acontece entre os dias 28 de agosto e 1 de setembro na ARCA, em São Paulo. A feira tem expectativa de público de 15 a 20 mil pessoas e oferece uma imersão total no Brasil por meio das artes visuais, reunindo mais de 250 artistas e 67 participantes de 14 estados brasileiros, incluindo tanto talentos emergentes quanto consagrados.

Como observa o crítico Arthur Danto, a arte é um reflexo de seu tempo, o que implica que, atualmente, ela questiona, desafia e reinterpreta as estruturas religiosas para expandir a compreensão das diversas crenças e promover um futuro mais tolerante. Um exemplo disso é a artista Nádia Taquary, que busca na ancestralidade uma forma de atualizar a narrativa das mulheres negras. Em sua pesquisa, ela descobriu que a noção de sagrado é fundamental para o raciocínio humano. “A divindade está em tudo: o mar, o rio, o vento, a mata, nossa força — tudo é permeado pelo sagrado. Por isso, é natural que muitos acessem e falem sobre ele”, reflete a artista em entrevista à Bravo!.

A história brasileira é, de fato, marcada por traços evidentes de religiosidade. Artistas como Mestre Valentim, Aleijadinho e Mestre Ataíde, por exemplo, estão associados ao barroco — um estilo dominante durante o período colonial, profundamente influenciado pelo catolicismo. “A arte popular expressa muito sobre memória e identidade, e, no Brasil, identidade também se relaciona com a fé. Essas crenças podem manifestar-se de maneira individual, refletindo a visão de mundo de uma pessoa, ou coletiva, representando um grupo”, explica Renan Quevedo, fundador da galeria Novos para Nós. “No ano passado, apresentei uma cerâmica dos indígenas Waurá, do Xingu, que retrata um ritual das máscaras, simbolizando a cura.”

A seguir, confira as galerias que Bravo! indica conhecer durante a sua visita: 

Sandra & Márcio

Há mais de 40 anos no mercado, a galeria tem no acervo um mix de tapetes orientais, antiguidades, objetos étnicos e peças com design. Durante o evento, o destaque vai para o trabalho de Mestre de Piranga, um dos principais nomes do barroco mineiro. Sabe-se que as suas esculturas foram encontradas, majoritariamente, no vale do rio Piranga, ao sul de Ouro Preto. O artista criou peças que exprimem a devoção católica – mas com um toque essencialmente brasileiro. A assinatura do escultor são os ombros largos, as formas circulares nos joelhos e nas mangas, e olhos grandes com uma pupila direcionada para o chão e outra para o céu.

Paulo Darzé

Localizada em Salvador, a galeria tem como foco a arte brasileira contemporânea. Para a SP-Arte, ela exibe um projeto sobre Èsú, divindade cultuada nas religiões de matriz africana. Nádia Taquary apresenta obras que unem o conhecimento ancestral com sua história e identidade. A artista iniciou seu percurso como escultora, mas também já criou instalações e vídeos. Ayrson Heráclito, por sua vez, tem a pesquisa voltada a elementos da cultura afro-brasileira e suas conexões entre a África e a sua diáspora na América. Emanoel Araújo, outro destaque do estande, foi um escultor, gravurista e curador conhecido por suas inúmeras contribuições para o fortalecimento da história e da arte afro-brasileira. 

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Novos para Nós

O projeto idealizado pelo pesquisador Renan Quevedo percorre o Brasil em busca de artistas populares que representam a herança da cultura do país. O estande, com o tema “A Festa”, tem uma curadoria de obras com o eixo temático centrado em diferentes celebrações pelo país. Os registros representam o profano, contraponto da religiosidade para a igreja católica.

Haverá obras de 16 artistas. O destaque vai para Maria Auxiliadora e Mirian Inêz da Silva. A primeira, pintora autodidata, criou suas obras a partir de temáticas que abordam as religiões afro-brasileiras, danças, e carnaval. Ela mistura tinta a óleo, massas e mechas do seu próprio cabelo, se destacando por sua singularidade. Nascida em Trindade, Goiás, Mirian Inêz da Silva desenvolveu uma série de xilogravuras e pinturas que abordam a cultura no meio rural e urbano – é comum encontrar mitologia em sua produção. 

 

Karandash

Criada em 1985, a Galeria Karandash propõe um diálogo entre a arte contemporânea e a arte popular. Nesta edição da SP-Arte, o público poderá conferir obras de Dalton Costa, artista de Maceió cujo trabalho é feito com materiais achados e adquiridos nas margens do Rio São Francisco e oficinas periféricas do estado de Alagoas. Ele trabalha com a técnica de assemblage (montagem, em tradução livre), que consiste na justaposição e colagem de objetos variados que, ao serem combinados, criam diferentes formas e significados. Ele apresenta três séries: “Gambiarra”, “Arqueologia do Nordeste” e “Religiosidade”. 

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RV Cultura e Arte

Nesta edição da SP-Arte, a galeria de Salvador, Bahia, apresenta o trabalho de Marcos da Matta. O artista é influenciado pelo cotidiano vivido na cultura do Recôncavo: o trabalho informal, a identidade e a religião estão fortemente presentes em suas obras. O programa curatorial da RV Cultura e Arte é dedicado principalmente às artes gráficas, em especial o desenho, a pintura, a colagem e os processos de impressão, assim como jovens artistas locais e brasileiros emergentes. 

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Verve

Nádia Taquary e Shai Andrade também também são destaque da Verve e apresentam obras com a temática da afro-religiosidade. Dirigida pelo artista Allann Seabra e o arquiteto Ian Duarte Lucas, a galeria dialoga com diferentes plataformas de experimentação da arte contemporânea. As linguagem e temáticas abordadas refletem o tempo presente para construir futuros possíveis. O espaço representa jovens e consagrados artistas que transitam livremente entre a pintura, a performance, desenho, fotografia, escultura e gravura.

SP-Arte Rotas Brasileiras 2024

Av. Manuel Bandeira, 360 – Vila Leopoldina – São Paulo, SP
Dias | Horários:
28 de agosto – convidados
29, 30 e 31 de agosto – 12h às 20h
01 de setembro – 12h às 19h

Rotas Brasileiras

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Ingressos: R$40 (+ R$6,00 taxa – meia entrada) ou R$ 80 (+ R$12,00 taxa – inteira)

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